Matracas
       da Semana Santa



     Na Semana Santa, que amanhã, Domingo de Ramos, se inicia, durante três dias - quarta, quinta e sexta-feira - os sinos das igrejas católicas emudecem, silenciam. É a vez das matracas. Nesses três dias, só dá elas; só elas tocam. Tocam?

     Os sinos só voltam a bimbalhar no sábado de Aleluia; e com mais força, festivamente, no Domingo de Páscoa, anunciando a Ressurreição de Cristo, fundamento maior da religião cristã.
     São Paulo (1Cor 15,14-17) disse: "Se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia também é a vossa fé...Se Cristo não ressuscitou, ilusória é a vossa fé."
     Na Semana Santa, na modesta paróquia de minha infância, lá no interior do Ceará, enquanto a matriz de Senhora Santana, padroeira do Iguatu, permanecia com suas imagens cobertas, o respeitado Raimundo sacristão saía pelo patamar do templo, com uma zuadenta matraca - plac! plac! plac!.
     Através dela, os fieis eram chamados a participar das celebrações da Paixão e Morte do Profeta de Nazaré. 
     O som rouco da matraca paroquial dominava o ambiente e invadia a cidade, contribuindo - incrível! - para aumentar o recolhimento dos católicos, comovidos com o drama do Gólgota. Muita gente chorava.
Ah, as matracas! Vasculhei minhas estantes a procura de um livro que me contasse a sua história, a sua origem. Quase nada encontrei sobre esse estranho instrumento religioso.

     Aí pensei: mas, sem a menor dúvida, os meus leitores gostariam de conhecer um pouco da história das matracas. Ainda creio, que tem muita gente que nunca ouviu falar ou leu alguma coisa sobre a origem desse "sino" rouco da Semana Santa.
 
     Os escritores que encontrei dão à matraca uma origem que remonta à alta Idade Média. Mas, nenhum deles, me deu munição para escrever mais e melhor sobre ela.
     No momento, porém, pelo menos defini-la me pareceu oportuno e interessante. Escolhi a definição que levará aos meus leitores a noção exata desse instrumento sonoro (sonoro?) que até já chegou a ser chamado de sagrado.
     "Um pedaço de madeira (tábua) com empunhadura, tendo no centro um pedaço de ferro, à guisa de alça, que, com o movimento brusco, bate produzindo estalos secos." (Instrumentos musicais e implementos, de Alceu Maynard Araújo).
     Para Deonísio da Silva, in A vida íntima das palavras, "a matraca produz um som seco...Substitui a sineta nas cerimônias religiosas da Semana Santa." E completa: "Seu som evoca tristezas..."
     Você, meu amigo insigne, já foi chamado de matraca? Ou já ouviu alguém ser assim chamado? Mas por que matraca? Vou responder, com a ajuda do Deonísio.
     Diz ele, no seu dicionário de Origens e curiosidades da língua portuguesa: "E, dado o som desagradável que produz é (a matraca) sinônimo de gente tagarela."
     Oh! Deus meu, conheço um bocado de matracas. Afastai-os de mim!

     
    
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 23/03/2013
Reeditado em 05/12/2019
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