Igrejas Maiores do que um Pecado
 
           É dito que a Igreja, além de humana, também é divina. Mas, dentro das suas absolutas qualidades, Deus é discreto, não se mostra tanto, ao deixar que o homem o descubra e até ao possibilitar que qualidades humanas e naturais se sobressaiam diante das sobrenaturais e divinas, mormente quando essas qualidades no homem vaidoso, animalesco ou instintivo pecam contra a ética cristã e cidadã. É assim que são tratados, “ad exemplum”, os desvios dos presbíteros em relação ao sexo, especialmente os de celibatários, “renunciantes” até dos prazeres sexuais matrimoniais consentidos pela Igreja; ora, imaginem-se os ofensivos à moral e aos bons costumes, como é o caso da pedofilia, do que têm tanto falado a imprensa e os contrários à Igreja, usando desses escândalos como imperdoáveis ou incompreensíveis e, sobretudo, como proselitismo religioso.

          O imperdoável só se perdoa em virtude da “infinita misericórdia” divina, mas, mesmo assim, Cristo foi implacável: ”Quem receber uma destas crianças em meu nome, recebe a mim. Mas, se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem em mim, melhor seria lhe pendurar uma pedra de moinho no pescoço e atirá-lo nas profundezas do mar” (Mt  18).  Quanto ao incompreensível, nada mais claro: nenhum homem é isento da tentação da luxúria perniciosa ao sexo; tampouco à riqueza, o que se vê na corrução. Há desses em várias religiões. Aliás, são assim antes de ingressarem nessas igrejas e, assim sendo, esses pecados não deveriam caracterizá-las; essas igrejas são maiores do que seus piores adeptos. Contudo, propositadamente, hipertrofiam deformidades, não em função de combatê-las ou criticar alguns membros, mas de atingir o corpo inteiro da Igreja.

          A palavra do Papa Francisco sobre esse assunto: “A vida cristã também é uma espécie de atletismo (...) em que é preciso se desvencilhar das coisas que nos separam de Deus (...). O homem está sob tentação constante, mas não é por isso que temos de demonizá-lo”. E sobre a pedofilia: “Que o celibato traga como consequência a pedofilia está descartado. Mais de 70% dos casos de pedofilia se dão no entorno familiar ou na vizinhança: avôs, tios, padrastos, vizinhos. O problema não está vinculado ao celibato. Se um padre é pedófilo, ele é assim antes de ser padre. Agora, quando isso ocorre (...): Tolerância zero com este crime (...)”.  Continua a Igreja de Cristo imperecível, bem melhor do que alguns dos seus seguidores.