VÁ TE CATAR, PORTELA!!

Esta semana, o Brasil inteiro discutiu a decência ou a competência dos corretores de redações do Enem 2012, pois dois candidatos gaiatos, que inclusive já cursam o ensino superior, resolveram provar que esses profissionais não as leem com a devida atenção. Para tal, Fernando César Maioto Júnior, de São José do Rio Preto, SP, inseriu no meio do seu texto, que deveria versar sobre a imigração no século 21, trechos do hino do Palmeiras e tirou nota 500, em uma pontuação vai de 0 a 1.000. Carlos Guilherme Custódio Ferreira, de Campo Belo, MG, decidiu inserir uma receita de “miojo” antes de concluir seu texto intitulado "Imigração ilegal", e ganhou nota 560.

Quando eu soube dessa notícia, imaginei que fosse originado pela velha discordância entre gramáticos e linguistas. Os profissionais de Letras que têm orientação normativa não admitem nenhum “pinguinho de xixi fora do penico”, ou seja, “errado é errado e tchau!”. Os que caminham para o lado da Linguística observam as vertentes sociais, psicológicas, culturais e diante dos desvios da norma culta, consideram-nos apenas como “inadequados”.

É claro que essa questão poderia ter sido originada por outro motivo e bem pior: algum incompetente (matou um monte de aulas e tem conhecimentos muito fragmentados), irresponsável e mau caráter recebera para corrigir redações e por preguiça não as lera. Juro que cheguei a pensar, “Oh, maldito estraga raça!”

Esse pensamento me ocorreu, pois conheço razoavelmente bem as 05 competências e as 21 habilidades previstas para serem avaliadas durante a realização do Enem, já que eu tive pesquisar sobre esse exame, durante a elaboração de minha dissertação de mestrado. Sei que ele é bem fundamentado e sonho que todos os alunos consigam tirar nota máxima nele, pois seria uma evidência de que o ensino básico teria mudado para melhor.

Como professora da disciplina de “avaliação”, “tiro o chapéu” para o pessoal que elabora as questões do Enem, pois, normalmente, são bastante interdisciplinares e inteligentes, oscilando quase sempre pelos 04 níveis taxionômicos (Benjamin Bloom) mais elevados: aplicação, análise, síntese e julgamento.

No que tange à redação, como o tema normalmente é dissertativo argumentativo, eu imaginava que os critérios definidos para os professores corretores se guiarem englobassem os seguintes: domínio da estruturação dessa tipologia textual, domínio de ortografia, coerência e concisão de ideias, coesão e mostra de conhecimento ampliado sobre o tema.

Qual não foi a minha surpresa quando li que, apesar de dois “bonitos” aí de cima afirmarem que esperavam receber duas notas zeros em suas redações, um tal de “Portela”, pessoa responsável por falar em nome do Cespe, instituto pertencente à UnB, garante que as notas 500 e 560 atribuídas às redações de Fernando e Carlos, respectivamente, são provas de que os corretores não só leram os textos, mas também os corrigiram, seguindo os critérios previstos no edital.

Que critérios são esses, Portela? Quem aceita que trechos desconexos componham parágrafos? De onde saiu essa ideia tão “asnenta” (de asno), meu senhor? Sabe o que eu penso? Antes de o episódio arranhar as imagens do MEC e do Enem, estão despedaçadas a sua cara e a da instituição que ganha rios de dinheiro, elaborando concursos pelo Brasil afora: o Cespe.

NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 21/03/2013
Reeditado em 28/03/2013
Código do texto: T4200882
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