curitibando
Saí do tribunal. Não fui júri nem julgado; um espectador. Me chamaram de excelência e eu não gostei. Aquela cadeira não me agrada, prefiro essa. Cruzei duas praças - e por isso adoro Curitiba - e pude almoçar, tardiamente, no Museu do Olho do Oscar. Esse lugar tem a menina dos olhos colada à minha retina; não canso de olhar.
No Café Mon pedi um café mon. Beberia uma coca para a acompanhar o beirute de rosbife, mas beber um refrigerante no Mon é como ir ao Louvre e comer um hot dog.
O menu não é o mais variado, mas tem o charme eufêmico de todo espaço de arte. E quando olho a mesa e vejo o cardápio-aquarela, a meia xícara de coffe e o Trapo do Tezza sob a sombra do museu, me sinto tão bem que já não basta ler, tenho de descrever o momento.
Na mesa do canto - onde eu preferia estar - duas mulheres conversavam em inglês. Repararam em mim e cochicharam, como que se eu pudesse saber o que diziam em voz alta, naquela linguagem. Depois outra moça chegou, sozinha, também me notou e, então, dei conta. Todas olhavam para o provinciano que cortava o beirute com a mão esquerda. É meu grande defeito à mesa, junto do imã aos cotovelos; mas meu cérebro não corta do outro lado, que sequer se sente enciumado.
Muita gente chegou e o lugar - para mim - ficou quase cheio demais. O café acabou e a folha em branco também. Ficou a vontade de escrever um cartão, à mão, ao Oscar. Nada mais prosaico, mas nada mais verdadeiro.
Há um espelho na mesa que me reflete e manda refletir. Se esse mundo é uma passagem queria que aqui estivesse a minha porta. Uma porta curva, por certo.
Queria mais um café, mais um beirute pra cortar de mão trocada e mais um livro também; como o neopoeta ao Cristóvão, esse último me dá tanta vontade de escrever como de ler.
Agora que ninguém repara em mim abre o momento de ir embora. Se tudo fosse um filme com direção e roteiro meus, subiria à cadeira e bradaria o verso pensado entre as praças que passei; Mas não, nessa minha vida meu personagem é coadjuvante; apaixonado pela mocinha que gosta de outro que gosta de outra que não gosta de ninguém; traído pela falha do revólver; cansado das próprias roupas. Inimigo íntimo das palavras que se perderam no vão enorme entre os pilares.
E por isso levo a vida tão a sério. Para, diligentemente, não permitir que drama, comédia, suspense, romance e terror tomem vias diferentes. Para que sempre haja um final oculto depois dos créditos, quando ninguém mais liga pra isso. Assim, então, vou escrevendo e apagando, pra não deixar marca; pra não lembrar nada.