A morte de Emílio chocou a todos os seus fãs. Lamentamos, pois sua voz era linda e ele conseguiu demarcar um espaço em nossa música. Até onde sabemos não compunha, mas sempre se valeu do vozeirão para se estabelecer num país em que negro, pobre, prostitutas, gays, mulheres e outras minorias não tem vez. No case dele teve vez e voz. Mas sua morte deveria, como todas, servir aos donos do mundo - aqueles que acham que não morrem. Ou porque são brancos. Ou porque estão no poder mesmo não tenho no cu o que o piriquito roa. Ou porque se nutrem da arrogância e se alimentam do preconceito. Essas e outras mortes - de severinos e severianos, de arinos e arianos, de sacas e sacanas, de baca e de bacanas, de tiras e tiranos, de mala e de malandro, enfim, do que quisermos dizer. Tudo morre e no buraco ninguém soca dinheiro nem o caixão tem gaveta. Nada de novo nessa prosa e quem não sabe disso? O problema está exatamente no "saber disso" porque aí é que o caldo entorna no quesito da culpa e dos casos pensados de putice que se fazem aos mais simples, aos mais humildes trabalhadores que só tem (mal) a vida e um emprego safado pra sustentar uma família na base do faz de conta.
Emílio se foi. Que tenha um bom lugar. A morte é assim mesma, sem meio termo nem meio ermo. Ela é fatal e definitiva. Amanhã poucos vão se lembrar de Emílio. Alguns mais jovens poderão perguntar se ele era irmão de Efeijão. Duvidam? Mas não duvidem, porque a memória do nosso povo é vaga lembrança, inclusive com os entes queridos mais próximos.
Fazer o quê? Quem quiser se enganar com a vida se engane. Com os cargos importantes que se engane. Com as derrubadas de tapetes que se enganem... Eu já cansei de ver autoridades metidas a cavalo do cão no passado e que hoje ficam "xaxando" no calçadão de boa viagem sem que ninguém lhes dê nem o fiofó pra cheira que não é flor. A vida é madrasta mesma. Pra outros - possivelmente os mais simples, os puros de coração, talvez seja mãe. Senão não aguentavam viver nesse mundo tão cheio de desconfiança, de malandragem, de filadaputismo consentido ou disfarçado. A morte serve para esse nivelamento que, certamente, o nosso negão Emílio não precisou. Só que ele teve sorte: ganhou de Deus a dádiva da voz aveludada e potente e bela e firme e forte...