Cela: barra em falço.
Eu pensei em delirar hoje, tentar a vida, invocar a morte. Tentei não ser mais eu por hoje, desfarçar-me de outro qualquer. E se ninguém me quizer, que se foda, hoje a vida é não olhar mas pra trás, ninguém se encanta mais.
Aprendi a andar sem rumo quando percebi que as pessoas são inconfiáveis, que não existe essa coisa de "nós". Se o homem é sociável, não me concidero tal, nem tão pouco sou um animal. Pena que meus instintos me desmintam.
A graça disso tudo está em aprender a amar, dizem que isso não se faz sozinho. O que não sabem é que a vida sempre arruma um meio.
Criei minha própria fêmea. Ela mora em mim, em ti, em qualquer um. Canta, dança, cansa de ser criança. As mulheres sujaram minha fêmea...
Mas hoje eu pensei em juntar-meao vento e percorrer os corações dos homens, provar de toda imundície humana, dormir no leite e acordar na lama... A verdade é que não quero acreditar que cresci demais, não quero acreditar, não posso, os meus heróis apodreceram no armário. Não sou burguês, não sou francês e os japoneses estão muito longe.
E se brinco com a morte é porque não aprendi ainda que ela é pacinte.
Poderiamos ter feito melhor, mas não existe essa coisa de nós. O acaso é um tiro no escuro; a vida é um murro na cara. Eu me esquivo no escuro, me movo pro lado da bala e levo um murro por acaso. Meu rosto está partido, meu coração a muito partiu, foi pra longe... pro país dos corações partidos e esquecidos, onde a tristeza é o firmamento, onde o que importa é coisa alguma.
Hoje ainda respiro mal.