Crônicas da vida urbana - Ônibus

Pode parecer loucura para alguns, mas a verdade é que eu adoro andar de ônibus. Acho que se eu tivesse um carro, eu só o usaria em caso de extrema necessidade. Apesar do carro ser confortável, o ônibus te oferece uma boa oportunidade de interação que o carro não te oferece...e tem tipos excêntricos que você só encontra dentro do coletivo, que de dentro do teu carro você não prestaria atenção. Dia desses estava eu no ônibus indo em direção a faculdade, dois senhores sentaram na minha frente, em uns lugares cedido de livre e espontânea obrigação por 2 adolescentes ( o ônibus obriga as pessoas a serem educadas e gentis com idosos, tem esse lado bom também!). Um desses senhores abriu seu jornal, provavelmente na página se esportes, logo futebol virou assunto do papo...me interessa, logo dei ouvidos...o papo girava em torno do clássico entre os dois times da cidade, mas não ficaria nisso por muito tempo, pois futebol puxou o assunto para violência entre as torcidas, que é reflexo da violência urbana. Já não era mais sobre futebol, era quase uma análise social da violência que assola as metrópoles brasileiras, da pobreza e do consequente aumento da criminalidade, que acabou puxando uma crítica ao poder público...ou seja, o papo de futebol dos senhores foi puxando outros assuntos, de esportes, passando por violência e indo até a política, coisa que a intensa interação entre ideias em um coletivo te propicia.

Outra coisa: não há melhor escola de filosofia do que janela de ônibus. É como se diz, janela de coletivo é escola de filosofia, é uma janela pra nossa alma. Naquele ônibus quando você consegue sentar perto da janela, a maioria de nós encosta a cabeça no vidro e começa a refletir sobre a vida...eu diria até que é uma ação involuntária essa nossa...a janela nos chama a pensar...

Comentaristas de futebol, traçar uma análise sociológica da violência urbana, ser crítico de política e ser filósofo ao mesmo tempo são coisas que só duas outras coisas poderiam lhe proporcionar: ônibus ou então uma boa mesa de boteco, mas este último fica pra depois.

Jô Fernandes
Enviado por Jô Fernandes em 20/03/2013
Reeditado em 20/03/2013
Código do texto: T4198058
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