A MULHER-MARAVILHA

A MULHER-MARAVILHA

Você acorda, liga o rádio e sorri feliz se sentindo (ainda) vivo !

E você, que há poucos instantes respirava (quase) livre o ar poluído da grande Metrópolis está, agora, nas mãos do Estado... ouvindo o que êle não censura, lavando-se na água que êle lhe dá, vestindo-se com o que êle permite que fabriquem para você, morando aonde êle quer -- comendo/lendo/viajando/etcs "ad infinitum" -- enfim, existindo graças a êle e sob sua tutela.

E você, insignificante e impessoal número de carne e osso, rato dos porões deste rotundo cargueiro intergalático vive apenas para servir, enriquecer, engrandecer e, ocasionalmente, derramar teu sangue pelos poucos VIPs (very important persons) que fazem de nós degraus para a fama, o Poder e a fortuna,

E nesse Mundo controlado pelo Sistema surgem, vez ou outra na Imprensa, publicações dirigidas aos "diferentes", aos que não "entram na onda", não aceitam rótulos nem consomem modas, subvertendo a ordem reinante.

Para esse público, amante do ROCK -- numeroso e de todas as idades -- nasceram, de tempos em tempos. revistas especializadas (e únicas), verdadeiros faróis contra o negro mar dos preconceitos. E vieram, em ondas sucessivas, a maravilhosa e insuperável "Revista POP" (1970?!), o inacreditável jornalzinho gratuito (com tiragem de cem mil exemplares) "ALTO-FALANTE" (1973) e, no ano seguinte, a marcante e completa "ROCK, a História e a Glória" (depois, Jornal da Música), além do "PASQUIM", "Música do Planeta Terra" e de várias outras mais, culminando com a magnífica revista SOMTRÊS.

Em todas elas a assinatura inconfundível, a analise sensível, a opinião com isenção. a visão clara e objetiva, o olhar compreensivo ante os modismos e o respeitoso carinho (com artistas e leitores)... de ANA MARIA BAHIANA. E, numaTerra cada vez pior, ainda temos (e vemos) nas palavras de Ana Maria Bahiana a prometida liberdade, a acreditada esperança em dias melhores e a firme certeza de que o "rock'n roll will never dies".

"NATO" AZEVEDO

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PS.: em meados de 2006 li na revista OI entrevista com Ana Maria Bahiana em Hollywood ou New York, falando das saudades que sente do Brasil e de tudo o que deixou para poder continuar fazendo o que mais gosta.

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NOTAS DISPERSAS: Os jovens roqueiros dos anos 70 no Rio e SP tinham em programas de rádio uma referência e o espaço para ouvir/curtir suas bandas & singers. O programa mais famoso da época "rolava" na Rádio JORNAL DO BRASIL carioca, dirigido por Carlos Alberto de Carvalho e se chamava "Música Contemporânea". Um programa sem preconceitos mostrava absolutamente DE TUDO o que se criava no cenário rocker internacional e só muito depois surgiria a Rádio FLUMINENSE FM com a mesma proposta.

Se costumava dizer que o rock "ressurgia" a cada sete anos... infelizmente, com o advento da dance music, isso não mais sucedeu e o espaço para o rock internacional desapareceu das emissoras, assim como os discos sumiram das prateleiras das lojas.

O texto acima foi escrito em 18/abril/1985 para a rev. SOMTRÊS, criada e dirigida na época por Maurício Kubrusly e se tornou a "bíblia" de rockeiros e de quem curtia um som de qualidade. Lamentávelmente a revista extinguiu-se pouco depois e esta singela homenagem à ANA MARIA BAHIANA ficou guardada em meus arquivos até a presente data.

"NATO" AZEVEDO

OBS: texto publicado em 13/08/2007 no site cultural OVERMUNDO