UM QUARTO DE DORMIR
Por Carlos Sena
Um quarto de dormir, pela manhã, deve ser igualzinho a qualquer outro quarto: lençóis, travesseiros, criado mudo, luminárias. Sandálias no canto, um livro no criado. Um copo com água, cartelas de remédios, blecaute na janela por conta do sol. Uma pessoa que dorme, ou está acordando. Outra que já acordou e o companheiro ainda ficou por lá se espreguiçando e querendo esticar um pouco mais o sono. Apenas uma pessoa solteira dormindo, compondo a cena matinal do cotidiano que se divide entre dormir e acordar, entre viver e ser feliz. Um quarto de dormir sendo rico ou sendo pobre, no asfalto ou na favela, sempre será um quarto de dormir – panos retorcidos de amores frescos, em alguns casos até um urinol dos velhos tempos. Cabelos desgrenhados, caras feias ou bonitas, mulheres bonitas menos bonitas sem maquilagem e mulheres feias mais feias pela falta do adorno. Homens que acordam pra mijar e pingam fora do vazo com suas cuecas adentrando as partes pudendas e mulheres despidas ou de calcinha apenas, no cumprimento do ritual que o acordar nos obriga. Um copo de água com prótese dentária dentro, sobre o criado mudo, por que não? Cenas de um quarto de dormir que a modernidade não altera na substância, mas na superfície. Um banheiro dentro do quarto e alguém que se demora dentro dele – eis uma cena coloquial de um quarto de dormir. Outro que bate a porta e lembra “olha a hora”, já estou atrasado. Cena de casal ou de solteiro, um quarto de dormir sempre terá a mesma composição de espaço, tempo e comportamentos. Mudam-se evidentemente as forma, mas um quarto de dormir tem um “status quo” semelhante sendo quarto de gente rica ou de gente pobre ou de gente mais ou menos. Mudam uma roupa que está no chão ou no cesto; restos de amores frescos ou não. Mudam os atores – uns asseados, outros não. Uns que são rápidos no banho outros não. Quartos que tem suíte outros não. Pessoas que são casadas outras não... Mas os quartos são, por assim serem o íntimo das nossas mais deslavadas vaidades. O lugar que a gente confia e por confiar nele chamamos de “ninho”... Há quem quando viaja, sinta falta mais do seu quarto, do cheiro dos seus lençóis, do travesseiro (travecheiro), até mais de que dos familiares. Um quarto de dormir é tão de dormir que serve para ficar acordado e lendo e beijando o sendo amado ou se escondendo da solidão...
PS. TV, rádio relógio, um livro de cabeceira ou mesmo uma bíblia, uma bloquinho de notas, um ramal de telefone convencional, são alguns item que normalmente se tem na cabeceira da cama de um quarto de dormir.
Por Carlos Sena
Um quarto de dormir, pela manhã, deve ser igualzinho a qualquer outro quarto: lençóis, travesseiros, criado mudo, luminárias. Sandálias no canto, um livro no criado. Um copo com água, cartelas de remédios, blecaute na janela por conta do sol. Uma pessoa que dorme, ou está acordando. Outra que já acordou e o companheiro ainda ficou por lá se espreguiçando e querendo esticar um pouco mais o sono. Apenas uma pessoa solteira dormindo, compondo a cena matinal do cotidiano que se divide entre dormir e acordar, entre viver e ser feliz. Um quarto de dormir sendo rico ou sendo pobre, no asfalto ou na favela, sempre será um quarto de dormir – panos retorcidos de amores frescos, em alguns casos até um urinol dos velhos tempos. Cabelos desgrenhados, caras feias ou bonitas, mulheres bonitas menos bonitas sem maquilagem e mulheres feias mais feias pela falta do adorno. Homens que acordam pra mijar e pingam fora do vazo com suas cuecas adentrando as partes pudendas e mulheres despidas ou de calcinha apenas, no cumprimento do ritual que o acordar nos obriga. Um copo de água com prótese dentária dentro, sobre o criado mudo, por que não? Cenas de um quarto de dormir que a modernidade não altera na substância, mas na superfície. Um banheiro dentro do quarto e alguém que se demora dentro dele – eis uma cena coloquial de um quarto de dormir. Outro que bate a porta e lembra “olha a hora”, já estou atrasado. Cena de casal ou de solteiro, um quarto de dormir sempre terá a mesma composição de espaço, tempo e comportamentos. Mudam-se evidentemente as forma, mas um quarto de dormir tem um “status quo” semelhante sendo quarto de gente rica ou de gente pobre ou de gente mais ou menos. Mudam uma roupa que está no chão ou no cesto; restos de amores frescos ou não. Mudam os atores – uns asseados, outros não. Uns que são rápidos no banho outros não. Quartos que tem suíte outros não. Pessoas que são casadas outras não... Mas os quartos são, por assim serem o íntimo das nossas mais deslavadas vaidades. O lugar que a gente confia e por confiar nele chamamos de “ninho”... Há quem quando viaja, sinta falta mais do seu quarto, do cheiro dos seus lençóis, do travesseiro (travecheiro), até mais de que dos familiares. Um quarto de dormir é tão de dormir que serve para ficar acordado e lendo e beijando o sendo amado ou se escondendo da solidão...
PS. TV, rádio relógio, um livro de cabeceira ou mesmo uma bíblia, uma bloquinho de notas, um ramal de telefone convencional, são alguns item que normalmente se tem na cabeceira da cama de um quarto de dormir.