MEU CRIME HEDIONDO!

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Cometi um crime hediondo, mas não vendi diploma falso de ensino fundamental, técnico e muito menos de nível superior. Também não participei de esquemas para fraudar licitações públicas, ou deixei alguém morrer em fila de transplante por falta de equipe médica, nem ajudei ou desviei dinheiro de merenda escolar, de hospitais ou remédios. Não me associei a nenhuma quadrilha, nem fui julgado pelo crime do “mensalão”. Nada disso! Só cometi um crime pior do que tudo isso e quero me entregar à polícia, mas como não confio totalmente na instituição que tanto prende quanto executa inocentes. Não me arriscarei!

Meu crime não foi dirigir bêbado, atropelar, arrancar o braço de um ciclista e o jogar no córrego e ter me escafedido para não ser preso por embriaguez. Em meus momentos de crise extrema de raiva, ódio ou desespero não falei mal de meus amigos. Mas cometi um crime grave, hediondo, eu diria! Não recebi bolsa família, bolsa escola, bolsa disso ou bolsa daquilo – mas talvez receba “bolsa reclusão da Previdência Social oferecida aos prisioneiros, maior até do que o valor do salário mínimo atual (fiz algumas contribuições à Previdência Social e tenho como provar). Também não fraudei farmácias populares, soneguei impostos ou desviei medicamentos essenciais à vida humana. Não deixei de construir hospitais, clínicas e também não sou político corrupto integrante do “mensalão”, que, embora condenados, permanecem soltos. Também não recebo qualquer outro tipo de “benefício” ou cotas raciais repassados pelo Governo Federal, diluindo pelo ralo da falta de efetividade, os pesados impostos que tentam inutilmente transformar o Brasil sempre desigual, em igual e fraterno, mesmo à custa de decretos, leis e portarias. Quase que na marra mesmo!

Nada disso foi meu crime. Também não atirei e esburaquei placas de trânsito, nem fui o responsável pela péssima manutenção das rodovias. Mas cometi um crime hediondo e quero confessá-lo. Não me considero bandido de alta ou baixa periculosidade, mas estou com medo porque meu crime é considerado muito hediondo!

Quer saber qual foi o crime tão hediondo que cometi...?

...foi apenas ter nascido em país onde as em obras começam e nunca terminam dentro do prazo e muitas vezes nem terminam como é o caso do Metrô de Salvador. Mas, meu crime foi maior ainda em ter nascido pobre, aposentado por invalidez, alcançado pelo fator previdenciário, que ainda paga imposto de renda porque não me enquadro em nenhum das doenças para isenção e, pior ainda, não ter dinheiro para pagar advogado particular e, por não existirem defensores públicos em todo o Brasil, para me defender de meu crime hediondo: a pobreza!

Já sei. Acho que vou me confessar ao Papa argentino Francisco, mas para isso, terei que aprender a falar fluentemente o espanhol. Como não tendo dinheiro para pagar o curso de espanhol também, sei que estarei lascado, sem ter para quem reclamar!

carlos da costa
Enviado por carlos da costa em 18/03/2013
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