DANÇAR

A dança é um dos veículos mais salutares de alívio do estresse, e onde se pode deixar embalar ao som de música, seja ela qual for, que em meio a um momento mágico, sonha-se, avalia-se, tem-se insights fantásticos.

Não importa o ritmo. É um desdobramento de sensações boas. E, quando estamos com alguém que gostamos ou nos identificamos como parceiros de dança, ficam muito melhor, pois a sintonia entre parceiros e o fluir dos passos, torna-se agradável, e ainda que se erre, não tem importância.

Adoro bolero. Seus passos são graciosos e leves. Samba é uma delícia. Exige energia, sincronia com o parceiro (a). Salsa e outros ritmos latinos são alegres e gostosos de dançar. Há outros mais, mas ainda não me sinto a vontade com eles.

Saber transitar pelos ritmos é uma delícia. Sou apenas uma aluna comprometida em me divertir, e o aprendizado é uma consequência. Também não estou preocupada com a velocidade em que aprenderei. E vou permanecendo até quando puder nas aulas.

Homens saiam das cavernas e se aventurem no mundo da dança, dos ritmos e se divirtam. Não importa se jamais serão excelentes dançarinos; apenas aprendam bem dois pra lá, dois pra cá e alguns passos básicos. Não deixem as mulheres tomando chá de cadeira.

Quando estive em Paris, entrei em uma loja indiana, e ao saberem que eramos brasileiras, o vendedor colocou imediatamente e o CD de Teló e outro do mesmo ritmo. Em outra, o atendente era cubano e quando começamos a conversar, ele perguntou se sabíamos dançar, e minhas amigas disseram que eu fazia dança de salão. Bom, ai ele me desafiou, e ao som de uma salsa tirei-o para dançar em plena loja. Foi muito legal. Nunca tinha visto uma francesa abrir um sorriso tão gostoso. Mas, a dona da loja era chinesa, nada simpática. Logo, ela juntou-se a nós, e o assunto transitou sobre samba, carnaval, Rio de Janeiro, etc. Depois, compramos alguns pequenos suvenires e fomos embora.

Contudo, o que mais me chama atenção é ver um casal apaixonado dançando abraçadinhos, dois pra lá, dois pra cá, e parece não haver mais ninguém no salão. Lembro-me, quando adolescente, e isto já vai muito longe, quando ia para os bailes e Hi Fi dos domingos, numa cidade pacata, e onde o ambiente do clube era familiar, e os pais não tinham medo que seus filhos pudessem frequentar o local; onde eu sonhava acordada por estar nos braços daquele garoto bonito e elegante em seu terno, e como bom dançarino, rodopiava pelo salão. Tudo não passava de um sonho, pois meu parceiro de dança era meu tio, ou primos que eram muitos, e assim, não dançávamos com ninguém que não fossem nossos parentes. Dessa forma, não tomávamos chá de cadeira, mas era uma vigilância serrada.

Dançamos soltinhos no salão, ou quando dançávamos com alguém, o braço do cavalheiro esquerdo e o direito da dama, estavam entrelaçados e as mãos em seu peito. Era uma delícia. Outras vezes, dançávamos com os braços ao longo do corpo, apenas o braço direito do cavalheiro nas costas da dama e o braço esquerdo da dama sobre o ombro do cavalheiro.

Quando me tornei evangélica deixei a dança, porque na concepção do grupo era pecado. Passei frequentar as “sociais dos jovens”, que dançavam cantigas de roda em casais; era divertido, mas não se compara a dança de salão.

Só recentemente, resolvi frequentar as aulas de dança de salão, pelo puro prazer de fazer exercícios físicos. E, quando estou dançando e confio no meu parceiro, eu me entrego, embora erre. Mas creio que afinidade, confiança são fatores essenciais para o fruír dos passos que serão dados. Percebo isto, quando danço com uns e consigo ter sintonia, e com outros não. Fico impaciente, mas, o material humano masculino é escasso e descomprometido. Fazer o que? Sonhar que um dia teremos mais homens que mulheres nas aulas de dança de salão.

Já me peguei dançando e sonhando acordada com a jovem de outrora, nos braços do dançarino quase perfeito, e em enlevo rodopiava feliz. Em outros momentos, tive insights em outros elaborei uma aula de filosofia inteira, ou em outro, tive a ideia para escrever o artigo que precisava para enviar para a disciplina que fazia. Ou ainda, momentos que me levaram mais perto de Deus. Contraditório? Tudo depende que ângulo você observa.

Depois, a música termina, mudam-se os parceiros e os ritmos, e quebra-se o encanto. A realidade retorna, afinal, estamos ali para aprender, sonhar é apenas um desvario.