TÚNEL DO TEMPO
Em 1585, relatando a abundância da mata natural brasileira, José de Anchieta escreveu: "...o Brasil é um jardim de frescura e bosque e não se vê em todo o ano árvores nem ervas secas ... Há muitas árvores de bom olor e várias cores e tantas diferenças de folhas e flores que para ser vista é grande recreação e pela muita variedade não se cansa de ver..."
Hoje ele escreveria:
Ora, ora, pois pois: quase tudo aqui foi explorado. As árvores em brasa são meras lembranças nas aulas de geografia. Arrancamos das entranhas das terras muito ouro e pedras preciosas para os amigos bretões, porém, muito sobrou para os olhos comilões daqueles que, do norte, cobiçam e fazem daqui quintal e latrina. O povo morador é muito alegre e hospitaleiro, assim vivem em festas nas avenidas e gramados, porém tudo que lhes mentem acreditam. A abundância das matas deu lugar às culturas de animais derramando seu sangue sobre as mesas dos lares e a isso chamam de fartura. Gigantes de metais devastam os verdes matando seus diversos moradores bichos. Enquanto casas, nos seus mais variados tamanhos e requintes, se erguem às margens das águas que dá de beber a todos. Também toda sorte de fezes e venenos são lançados nas suas veias dantes límpidas. Já não se ouvem os gorgeios dos pássaros porquanto pés de paus são considerados estorvos, assim se proliferam insetos de pernas longas levando doenças aos gajos e raparigas. Toda destruição em nome do progresso não diminue a diferença entre miséria e riqueza... Fica-me a questão.
Parto-me em breve e rogo a Deus Pai Irmão para que esses pobres tomem juizos e não morram sobre a própria fedentina.