O Mostro Azul.
O Monstro Azul.
Foi numa Sexta-feira fria e úmida de inverno que eu vi pela primeira vez um caminhão. Nunca tive tanto medo quanto naquele dia; mesmo estando dentro de casa e embaixo da cama, eu tremia como uma vara verde; meu pai que Deus o tenha muito amoroso, me encorajou a ver o monstro mas teve que literalmente me arrastar até o terreiro da casa. E lá estava o monstro azul com sua enorme boca escancarada encima de quatro grandes rodas e uma barriga enorme de madeira, que a essas alturas já estava quase cheia com toda aquela coisarada que tinha chegado de manhã cedo no nosso terreiro. E olha que era de tudo; de todo mesmo: sacos de feijão, de farinha, café, utensílios de barro, como potes, panelas, e pratos; os bichos também; não sei como é que cabia tanta coisa, e como não cabia mais nada, as galinhas e os perus foram amarrados por forra da barriga do monstro, e as pessoas viajaram sentadas por cima da carga, inclusive meu pai que prometeu me trazer um pão recheado com doce de goiaba.
E lá se foi o monstro roncando pela estrada boiadeira, deixando atrás de si um rastro de poeira e fumaça.
Aos poucos eu fui perdendo medo do monstro azul, e fui me acostumando com o barulho que fazia. É, e esses monstros aos poucos foram tomando conta da nossa estrada boiadeira, e já não eram assim tão azuis; fantasia de menino.