O Tempo? Ignorei.
Quando eu festejei os meus 90 anos comecei meu discurso dizendo O tempo? Ignorei e aos 90 cheguei. Quando completei os 91 recebi felicitações do meu amigo Dr Fabio Engel com os seguintes dizeres: O tempo ignoraste e aos 91 chegaste. Parabéns.
De fato, foi ignorando o tempo que eu não tive limites, não encontrei barreiras. Numa época em que ter 21 anos e não estar casada ainda já era ser solteirona, eu casei com 40; ter filhos depois dos 35 já era um risco, eu ganhei minha filha com 43; mulher guiando carro causava espanto e começar a guiar com 51 anos como eu era quase uma agressão; viúva, já com mais de 60 anos e construir uma casinha numa praia causou comoção pelo menos na família que também se encorajou e desandou a construir também; mudar de Porto Alegre para Floripa com 70 anos foi uma aventura do tipo Edgar Rice Burroughs para a parentada; e me matricular com 79 anos como aluna ouvinte no Curso de Filosofia da UFSC e acompanhar durante 4 anos a turma de calouros até eles se formarem (claro que eu escolhia só duas ou três disciplinas por semestre, ai que tempo bom, meu Deus) foi considerado de mina parte pelos parentes e amigos um fato único, inusitado, descabido.
Tenho certeza que estou com a razão. Ignorar o tempo para mim dá o meu sentido de vida. Liberdade para fazer tudo o que o meu coração desejar. Aliás, nós todos somos heróis, já nascemos sabendo que um dia iremos morrer mas, audaciosamente e galhardamente continuamos vivendo.