OS CHIFRES DE ANTÃO..

Antão era durão, valente, tinha cara e jeito de mau. Força e coragem eram suas qualidades.

Na pequena cidade todos conheciam sua fama, tinham medo, passavam sem ser notados diante de Antão. Jogava no time de futebol da cidade, com um metro e oitenta e sete de altura, era um zagueiro que empunhava respeito, arcava as sobrancelhas, entortava a boca e rosnava. Rosnava para aqueles atacantes que tentavam (sem sucesso) passar por Antão. Antão falava pouco, quase nunca ouviam a sua voz. Era uma homem sério e maduro, bravo e mau-humorado.

Era casado com Rosinha, uma morena estonteante, bela e na plena formosura de seus 24 anos de idade. Olhos verdes, pernas e peitos desenhados, sorriso malicioso e provocador. Todos na cidade eram apaixonados por Rosinha, mas ninguém nunca ousou nem cumprimentá-la. Tinham medo do Antão! Não me consta se tinham medo da sua fama, da sua forca ou de seu revólver calibre 38 que ele levava consigo. Não sei do que tinham medo.

Foi num sábado a tarde, Antão jogava sinuca no bar do Tonho, ele e mais uns vinte e sete homens tomando cerveja e fumando cigarro. Estava um calor infernal, no rádio tocava um Reginaldo Rossi, que particularmente Antão adorava. Estava feliz aquele dia, ensaiava até algumas gargalhadas diante as piadas dos amigos. Tacada vai, tacada vem. Tudo estava perfeito. Antão estava feliz!

Antão deu uma tragada no cigarro, tomou um gole de cerveja, empunhou o taco sobre a mesa, arcou o corpo. O cigarro no canto da boca, juntou forcas e... foi aí que entra no bar o Maneco gritando:

- Antão, Antão!! Sua mulher “ta” te traindo. “Ta” te traindo. “Ta” te guampeando com o Juvenal!!

Todo mundo olhou para o Maneco, ele suado, ofegante da sua corrida.

- Ela “ta” na casa dele. Eu vi. Eu vi Antão.

Antão quebrou o taco da sinuca, tirou o cigarro da boca, tomou mais um gole da cerveja e correu pra casa do Juvenal.

Com o revólver em punho, chegou na casa de Juvenal. Ele e mais ou menos umas 300 pessoas, quase toda a cidade esperava aquele encontro. A polícia foi chamada. A televisão cobria com o noticiário.

- O Juvenal é louco. A mulher do Antão não!

- O Antão vai matar o coitado do Juvenal.

- Meu Deus. Não quero nem ver.

Todos comentavam a situação. Era inadmissível ferir o ego do Antão. Ele não pouparia.

Entrou na casa dando um chute na porta, e para seu espanto, viu Rosinha e Juvenal nus. Isso mesmo! Pelados e abraçados. Seus corpos estavam unidos, formavam um só. Faziam amor loucamente na sala. Antão entrou na casa. O revólver em punho. As pessoas na porta apertavam-se para assistir.

Antão num só golpe pegou Rosinha pelo braço, tirando ela das mãos de Juvenal. Colocou o revólver temido por todos dentro da boca de Juvenal. Alguns já choravam, pediam. Então Antão falou:

- Nunca machuque essa mulher! Nunca a faca sofrer... Se magoá-la você vai se ver comigo. Eu a amo! Está entendido?

Pegou Rosinha pela mão, ainda nua e a levou para casa. Não deu explicacão a ninguém, e nunca ninguém ousou em perguntar-lhe algo.

Vivem juntos e se amando, Rosinha, Antão e Juvenal. Eles se amam. Antão nunca conseguiria viver longe de Rosinha. Nunca!

Aí está a forca do amor. Aí está o seu mistério.

O amor traz com ele sentimentos puros e verdadeiros. Dentre eles o perdão e a ausência do medo.

Amem sem medo. Apenas amem!