A farsa

A farsa

Não há verdade, apenas uma farsa, uma emulação, na qual, inventamos modos para coexistirmos. Viver é a maior mentira, não há liberdade e, sim, uma obrigatoriedade e um desejo parco de sobrevivência.

Retribuímos a existência perpetuando a sua farsa, portanto, não há verdade sobre o mundo, apenas um acordo intrínseco para manter tudo em equilíbrio. A dita verdade desequilibraria o que até hoje se perenizou. A verdade que nós conhecemos na realidade é, simplesmente, uma farsa. Conhecendo esse discurso, o mundo deixaria de existir, pois não seria possível a vida.

A farsa conceituou o homem como racional, domesticando, assim, desejos e instintos e aprisionando pensamentos e vontades. O homem aboliu sua natureza para obedecer a uma ordem que ele determinou. A busca por tal humanização fez com que esse homem corrompesse seu “eu”, mecanizasse a vida e transformasse o mundo em uma grande mentira. Essa racionalidade inventada deturpou a vida, corrompeu a natureza e a essência para colocar esse homem como o centro do mundo.

E a farsa continua...

Nascemos de uma mentira, viemos de uma suposição e iremos para uma subjetividade. É preciso mentir para seguir e não interromper o determinismo da vida.

O total descrédito em que se tornou a existência comprova um mecanismo que oprime o ser e o faz submisso e subserviente, tolhendo até a sua autonomia sobre a própria vida. Buscam-se saídas para tal vazio, acalentos para preencher o nada, respostas para explicar ou confirmar, mas...; a fé e o conformismo ainda são os melhores mecanismos controladores do homem.

A existência é um mistério escancarado, uma chacota, uma pilhéria e o homem rindo sem saber de quê e vivendo sem mesmo entender o porquê. O ser reflete sobre o antes e o depois, mas não entende os motivos do agora, do instante; tudo isso prova que o homem foge de seu tempo para não se divorciar da vida. Motivo? Entender que não há propósito e nem sentidos pode acarretar na desordem, no caos e antecipar o tão esperado apocalipse. A farsa descoberta causaria um revés na existência, a vida não suportaria a apresentação da verdade e o mundo viveria em perturbação constante. O homem, então, sentiria nesse momento a terrível sensação de impotência e se autodestruiria por não saber conviver com a verdade, tampouco, com a liberdade que essa verdade lhe traria.

Mário Paternostro