Pensamentos velozes
Olho pela janela do carro.
As gotas da chuva me parecem poéticas.
São como palavras que saltam da minha mente
em direção ao mundo lá fora.
Os pingos finos tocam ao chão de forma delicada,
como uma dança clássica; um balé.
Fico a pensar no que seria melhor a fazer nesta hora.
Me parece ser o momento apropriado para sair do conforto
diria, sair da mesmice.
Eu poderia estar naquela água
lançando a rede como faz o pescador de nada.
Pescaria sonhos. Realizações, palavras, sons.
A moto passou levando meus pensamentos
para uma velocidade maior, não pude controlar.
O desejo de fazer algo nunca feito
veio como um sopro quente em minha boca.
Sim, eu poderia me agarrar àquele destino incerto
para fazer coisas incertas, em lugares certos
com pessoas mais do que certas.
Fui atrás, na garupa da insanidade.
Fui levada à cena ideal de gotas de chuva
caindo sobre a roupa intocável.
O vento era a única certeza de que eu estava ali,
vivendo o inédito de forma oculta.
A velocidade jogava todos pensamentos pré-formulados para trás.
Não tive mais controle. A partir daquele momento era eu,
a moto, as palavras e nada mais.
O meu guia era o acaso. Meus pensamentos não eram meus.
Do retrovisor via algo distante que faz parte de mim.
Do mesmo espelho contemplo meu motorista.
O nome dele? Segredo, desejo, vida, sentido.
Sentido de vida. Desejo de segredo.
Não vou voltar!
Agarro-te com versos e unhas, com um sorriso despretensioso e galopante. Assim corro para agarrar minhas utopias.
Sigo sem controle por esta via. Mas o mundo real começa a me chamar.
Dou uma parada, tento voltar. O cão se movimenta, alguém me chama.
Quem ira voltar? Aquela que do banco do carona olha a vida passar lá fora
ou a que agarrou-se na velocidade dos seus pensamentos e seguiu viagem?