O artista e o seu interesse

O artista e o seu interesse

Schopenhauer falou que a arte é desinteressada, mas o artista por trás da obra, esse sim, é interesseiro. Foucault falou que esse mesmo autor se sacrifica em busca de uma eternidade; é o pagamento perene pela criação. O autor morre no momento em que apresenta sua obra, mas, ele nascerá, sempre, para buscar os direitos sobre ela. Então, Barthes estava certo quando disse que ele está tão vivo quanto morto.

O poeta propaga seus versos, distribui suas pérolas, mas por trás dessa oferta, ele faz a poesia cobrar com idiossincrasias e com sentidos; é o autor querendo receber o preço dos seus sentimentos. O pintor retrata uma imagem, mas quer ser reconhecido na figura da moldura. O artista quer ser, sempre, maior que sua obra. No momento em que ele assina, ele impõe sua autoria e determina qual sentido ela terá. Não há como fugir da procura do sentido que sentiu o autor. A obra nasce e morre no local em que foi criada.

Nietzsche falou que não quer ler autor nenhum em que se perceba que ele quis escrever o livro, mas, quem não encontra Nietzsche em seus aforismos? A obra jamais saiu das mãos do autor.

Libertar obra/autor dará sentidos, mas, mesmo os sentidos, esses terão que ter o aval do artista. Como se libertar da pergunta: o que ele quis dizer nessa obra? Não há liberdade, nem criativa e, tampouco, sentida; há uma forma de criação e de recepção. Está tudo preso nas mãos do artista. O artista, então, registra, toma posse, determina e atribui “verdades” à sua obra. O sentido passa a não ter sentido sem que o mesmo esteja atrelado ao criador.

Percebe-se, então, que o criador não liberta sua criatura, não alforria a obra e nem se anula; seus rastros deixarão marcas para sempre o encontrarem. Essa forma de deixar suas digitais acorrenta a propagação do discurso e, o leitor – tome como leitor, todo aquele apreciador de arte –, apenas, sente o que sente o autor, justificando esse sentimento através de uma interpretação subjetiva.

Procura-se desvencilhar obra/autor, atribuir sentidos, chegar a exegese, todavia, não se deixa de perguntar de quem é. Importa quem fala e importará sempre. O artista não deixa a obra crescer e amadurecer, ele a vigia de longe e é chamado, sempre, por quem quer conhecer a sua história. O preço do artista é a imortalidade de sua assinatura e o sentido ele, sempre, determinará.

Mário Paternostro