Sociedade misantropa.

Sociedade misantropa.

A espera é uma das virtudes de quem não consegue viver o presente. Busca-se no futuro, não tão distante, a esperança para melhores dias. Promessas são feitas, compra-se a prestação e, assim, engana-se o vazio do agora.

O imediatismo fez, do homem atual, um ser que sacia seus desejos comprando a prazo para viver dias vindouros, no hoje. Buscando, dessa forma, saciar as vontades criadas pelo capitalismo ditador que vende um modelo, no qual, muitos não conseguem comprar sem fazer débitos e, assim, corromper a sua própria moral; torna-se inadimplente, apenas, para se satisfazer. É o consumo pelo consumo para sanar o vazio que a vida passou a impor. O homem busca se aproximar do outro, mas mantém sempre uma distância; a vida atual fez desse homem um sujeito desconfiado e egoísta.

As redes sociais, celulares e toda a tecnologia oferecida suprem a companhia, mas, fez desse homem um doente; um novo misantropo surge.

Os corpos já não se tocam para satisfazer os desejos; os sonhos a dois não são mais sonhados; os planos jamais serão feitos, tampouco, desfeitos. O homem faz seus débitos a longo prazo para comprar bens materiais, mas não quer investir em sentimentos duradouros.

Mas, e aqueles que não acompanham a evolução dos dias? Balmam chama-os de refugo humano, ou seja, seres que o capitalismo produziu para ser o lixo; aqueles que comem, somente, os restos dos que regurgitam as sobras do mundo. Mas, esses seres também consomem os desejos imediatos dos novos tempos, quando fabricam mais refugos e produzem mais lixo, para, assim, consumir o lixo de quem, a qualquer custo, compra a ideia de um novo tempo. É o homem produzindo lixo e sendo o próprio lixo.

A vida atual é rápida, o mundo corre, tudo está em alta velocidade, mas, o homem, esse ser retardado, consome a própria espécie, um canibalismo explícito para satisfazer seu egoísmo e sustentar a globalização. Não há mais o coletivo, nem a preocupação em se ter um ideal que seja comungado pela maioria; há, apenas, ideologias de grupetos, passeatas individuais, discursos unilaterais e, nenhum ideal coletivo. O homem passou a individualizar ideologias e, assim, tornou-se mais fraco e frágil; um ser sem autonomia e manipulável.

Será esse homem atual um desperdício? Será esse homem de hoje um ser voltando para o ventre da vida? O que se percebe é que o modelo atual imposto pela globalização está recolhendo o homem ao seu regaço e criando ideologias fragmentadas. O mundo atual criou uma nova sociedade, na qual, o homem passa a se alimentar do próprio homem. As ideologias não são comungadas, ou seja, é uma ideologia aniquilando a outra e a sociedade que se conhece dando lugar a uma nova sociedade; a sociedade misantropa.

Mário Paternostro