Hotel da Bahia
Tem coisas e marcas que acompanham a gente por toda vida, mesmo depois de desaparecem. Ficam no imaginário, não há tempo que apague. Acho que as empresas sabendo disto criam aqueles cartões de fidelidade, que em alguns casos nem seriam necessários. Quer ver? Varig, por exemplo. Quem viajou nos seus Caravelle, DC3, DC10 ou Boeings sempre terão a Varig como referência. Ela foi mais do que companhia aérea. Foi prazer de voar, foi orgulho, foi representação, embaixada brasileira no exterior.
Outro dia conheci Maribel Bouzas, uma ex-aeromoça, fui fazer um negócio imobiliário, mas quando me percebi já tinha esquecido a compra do imóvel e só queria conversar sobre a Varig. O apartamento ficou em segundo plano. Não estou aqui para falar da Varig, mas não quero mudar de assunto sem perguntar quem não lembra daquela musiquinha Varig, Varig, Varig...? Naquele tempo tinha mais charme voar. Eu não devia confessar, mas até "roubei" um copo, parece cristal, do almoço servido a bordo. Tá lá guardadinho no meu bar, fazendo recordar minhas viagens. Já avisei em casa, "cuidado para não quebrarem com esta mania de limpeza!!!!"
Mas, como disse, não estou aqui exatamente para falar na Varig. Tem outro ícone, particularmente para os baianos da minha geração, que é o motivo maior desta crônica. É o Hotel da Bahia, por onde passei ontem e o vi em final de reforma, depois de amargar períodos de decadência. O hotel ganhou uma bandeira internacional, mas sempre será o Hotel da Bahia. É um marco histórico e arquitetônico, duas vezes matéria da prestigiada revista francesa L'Architecture d'Aujourd'hui.
Questões arquitetônicas à parte o que mais vem à nossa mente é que ele foi construído no governo de Octávio Mangabeira, em parceria com empresários locais, para ser palco de grandes eventos. E foi! Numa época de muito glamour, os chamados anos dourados, quando chegou a hospedar reis, príncipes, presidentes e muitos artistas internacionais. De Michael Jackson a Janis Joplin! Sem falar que foi residência do próprio Octávio Mangabeira e da arquiteta Lina Bo Bardi.
Coincidiu o apogeu do Hotel da Bahia com Juscelino Kubstchek na Presidência, Brasília sendo inaugurada, minha vizinha Maria Olivia Cavalcante sendo eleita miss Brasil, quase miss Universo. E como o hotel era centro dos acontecimentos, lembro da chegada de Maria Olívia ao aeroporto após ganhar o concurso, seu desfile pela cidade em caminhão do corpo de bombeiros e a multidão a acompanhá-la até o Hotel da Bahia. Eu no meio: "É minha vizinha, é minha vizinha de Itabuna!".
Não sei se vivíamos uma época de maior liberdade e inocência, o que sei é que junto com aquela multidão adentrei o hotel subindo a monumental escada em granito. Uma escada daquelas até hoje só vi no Hotel da Bahia e no filme "E o vento levou". Como Scarlett O’Hara, Olívia flutuou pela escadaria até o mezanino e a multidão subiu atrás. O buffet, grandioso e democraticamente exposto nas mesas, foi consumido em segundos. Minutos depois, Maria Olívia desapareceu, obviamente cansada de distribuir beijos nos 24 quilômetros que separam o aeroporto do Hotel da Bahia. Farta de beijos e do buffet a multidão foi se retirando aos poucos.
O hotel agora está sendo reinaugurado. Mas não me venha esta rede internacional com frescurite e mil seguranças. Um dia ou outro pode ser que eu consuma algo, mas quando eu bem entender vou entrar no hotel, sentar sem consumir ou apenas caminhar pelo seu interior para admirar o imenso painel de Genaro de Carvalho, medindo 200m² e as obras de Carybé, tudo tombado pelo patrimônio histórico. E que não me venham com frescurite, para eu não ter que dizer "o hotel é mais meu do que seu!".
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Em tempo: Já estive no hotel, fui divina e baianamente recebido, sem frescuras. Admirei a pintura de Genaro de Carvalho e a obra de Carybé. Na saída ganhei até um bonito cartão “Starwood Preferred Guest”. Não sei ainda o que é. Deve ser coisa boa!!!
Tem coisas e marcas que acompanham a gente por toda vida, mesmo depois de desaparecem. Ficam no imaginário, não há tempo que apague. Acho que as empresas sabendo disto criam aqueles cartões de fidelidade, que em alguns casos nem seriam necessários. Quer ver? Varig, por exemplo. Quem viajou nos seus Caravelle, DC3, DC10 ou Boeings sempre terão a Varig como referência. Ela foi mais do que companhia aérea. Foi prazer de voar, foi orgulho, foi representação, embaixada brasileira no exterior.
Outro dia conheci Maribel Bouzas, uma ex-aeromoça, fui fazer um negócio imobiliário, mas quando me percebi já tinha esquecido a compra do imóvel e só queria conversar sobre a Varig. O apartamento ficou em segundo plano. Não estou aqui para falar da Varig, mas não quero mudar de assunto sem perguntar quem não lembra daquela musiquinha Varig, Varig, Varig...? Naquele tempo tinha mais charme voar. Eu não devia confessar, mas até "roubei" um copo, parece cristal, do almoço servido a bordo. Tá lá guardadinho no meu bar, fazendo recordar minhas viagens. Já avisei em casa, "cuidado para não quebrarem com esta mania de limpeza!!!!"
Mas, como disse, não estou aqui exatamente para falar na Varig. Tem outro ícone, particularmente para os baianos da minha geração, que é o motivo maior desta crônica. É o Hotel da Bahia, por onde passei ontem e o vi em final de reforma, depois de amargar períodos de decadência. O hotel ganhou uma bandeira internacional, mas sempre será o Hotel da Bahia. É um marco histórico e arquitetônico, duas vezes matéria da prestigiada revista francesa L'Architecture d'Aujourd'hui.
Questões arquitetônicas à parte o que mais vem à nossa mente é que ele foi construído no governo de Octávio Mangabeira, em parceria com empresários locais, para ser palco de grandes eventos. E foi! Numa época de muito glamour, os chamados anos dourados, quando chegou a hospedar reis, príncipes, presidentes e muitos artistas internacionais. De Michael Jackson a Janis Joplin! Sem falar que foi residência do próprio Octávio Mangabeira e da arquiteta Lina Bo Bardi.
Coincidiu o apogeu do Hotel da Bahia com Juscelino Kubstchek na Presidência, Brasília sendo inaugurada, minha vizinha Maria Olivia Cavalcante sendo eleita miss Brasil, quase miss Universo. E como o hotel era centro dos acontecimentos, lembro da chegada de Maria Olívia ao aeroporto após ganhar o concurso, seu desfile pela cidade em caminhão do corpo de bombeiros e a multidão a acompanhá-la até o Hotel da Bahia. Eu no meio: "É minha vizinha, é minha vizinha de Itabuna!".
Não sei se vivíamos uma época de maior liberdade e inocência, o que sei é que junto com aquela multidão adentrei o hotel subindo a monumental escada em granito. Uma escada daquelas até hoje só vi no Hotel da Bahia e no filme "E o vento levou". Como Scarlett O’Hara, Olívia flutuou pela escadaria até o mezanino e a multidão subiu atrás. O buffet, grandioso e democraticamente exposto nas mesas, foi consumido em segundos. Minutos depois, Maria Olívia desapareceu, obviamente cansada de distribuir beijos nos 24 quilômetros que separam o aeroporto do Hotel da Bahia. Farta de beijos e do buffet a multidão foi se retirando aos poucos.
O hotel agora está sendo reinaugurado. Mas não me venha esta rede internacional com frescurite e mil seguranças. Um dia ou outro pode ser que eu consuma algo, mas quando eu bem entender vou entrar no hotel, sentar sem consumir ou apenas caminhar pelo seu interior para admirar o imenso painel de Genaro de Carvalho, medindo 200m² e as obras de Carybé, tudo tombado pelo patrimônio histórico. E que não me venham com frescurite, para eu não ter que dizer "o hotel é mais meu do que seu!".
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Em tempo: Já estive no hotel, fui divina e baianamente recebido, sem frescuras. Admirei a pintura de Genaro de Carvalho e a obra de Carybé. Na saída ganhei até um bonito cartão “Starwood Preferred Guest”. Não sei ainda o que é. Deve ser coisa boa!!!