Inferno, psicanálise e casa de pães.
O que é o inferno? Em muitas partes de nossa vida creio que cada um de nós já perguntou isso.Talvez em sua infância você visse o inferno dentro de um armário; ou quem sabe foi radical como eu ao associar o inferno com pesadelos vindos de um espaço cósmico, de qualquer forma o inferno não parece ser um lugar que queremos ir, na verdade eu sempre soube que só se descobre o que é realmente o inferno, se você for pra lá. Então por que me disponho a arriscar um palpite sobre sua existência? Não venho criar padrões de pensamento, apenas tenho desejo de investiga-los. E em relação ao reino do pensamento, eu acredito que ele não é simplesmente a melhor forma de entretenimento humano, mas sim um lugar que está mais próximo da realidade que vamos coexistir quando essa passar. Então cada um tem seu próprio jeito de ver esse lugar esquecido, e se a realidade do pensamento reflete uma realidade transcendental, acho que esse lugar tenebroso não e uma cadeia como as que temos hoje para aprisionar os malfeitores de nossa sociedade – ao contrário do que diz as pinturas nas grandes igrejas e livros históricos. Pois essa é uma cadeia que aprisiona o que antes foi libertado do corpo físico. Hei! Mas como se aprisiona algo que não pode ser tocado? Logicamente estamos tratando das prisões da alma.
Certa vez descobri ainda pequeno um medo quase sem precedentes do meu cão, que, amarrado do lado de fora da casa, parecia querer atacar o vento. Que cruel para um pobre menino como eu não? A imaginação de uma criança não é aprisionada como as dos adultos, e logo que recebi esse estímulo, o medo entrou facilmente na forma de fantasmas e bruxas e todas aquelas lendas que constituíam a cultura das pessoas daquele lugar. Então eis meu primeiro contato com o inferno, o pavor. É engraçado não é? Mas até que ponto o medo aprisiona uma alma? Acho que isso depende da coragem de cada um.
De qualquer forma se não soubermos zelar por nossas almas nesse momento passageiro, em breve acharemos a resposta para esses enigmas.
A alma não pode ser aprisionada por ninguém, a menos que ela mesma faça isso. Ah sim, e Deus? Bem ele só separa o joio do trigo. Por acaso eu descobri um papel bem importante nos psicanalistas e terapeutas, é que eles têm desenvolvido esse trabalho de agricultor da consciência humana. Mas é claro que ainda estamos longe de produzir pães de ótima qualidade, mas ao investigar os pacientes, podemos ver neles uma acuidade sensorial cada vez maior quando tratam de separar os tormentos da mente - joio do trigo. Ou serão os tormentos da alma? Na verdade há duas espécies de panificador, o do tipo laboratorista e do tipo confeiteiro. Enquanto um tenta aplicar uma solução para melhorar a química da massa (cinzenta- sacou?), o outro, tenta através da sensibilidade e degustação, verificar o ponto certo de ir para o forno; aí então ele nos parabeniza, pois escapamos de ser incinerados nas chamas do “inforno”. Verificou quanto confusão pode existir quando uma massa que precisa ir ao laboratório vai para a confeitaria direto? E quando ocorre o inverso? Como se trata problemas físico-químicos com terapia? é como assar um pão cuja massa não foi separada do joio, vamos para a vitrine antes da hora. E quando uma massa que só precisa de retoques finais é induzida ao laboratório onde recebe ingredientes desnecessários? Que responsabilidade não? Bem, que todos tenham consciência de que se não tratamos de fazer chover em nossa plantação e não aproveitarmos da melhor forma a terra onde crescemos, certamente o agricultor vai nos excluir, pois deixamos o joio tomar conta de nós.
Mas como se faz chover se somos pobres plantas esperando a colheita? Bem o primeiro passo é descobrir se você já é uma pessoa “infornal” ou “vitrinal”, mas e claro que todos têm problemas (todos temos um pouco de joio), mais o maior deles é que não sabemos ao certo diferir se precisamos passar pelo o laboratório ou para a confeitaria direto, se os nossos tormentos são infernais ou apenas superficiais. Felizmente existem excelentes temperos para que nossa massa seja apreciada pelo panificador, é claro que um deles é a alegria, outro podemos chamar de fé, na verdade a cozinha da vida é rica em variedades de temperos. Por isso o lugar mais triste numa cozinha é incinerador, acaso já ouviu falar de alegria no inferno? Claro que não! Nesse lugar existem plantas que não receberam as chuvas de tempero, elas fecharam suas folhas e por isso ficaram ressecadas, pois buscaram apenas a luz do sol. Essas são as piores prisões da alma por que muitas plantas já vivem nas sombras.