O METROSSEXUAL

Um dia, não mais que de repente, decidiu desfazer-se da imagem truculenta, pouco convincente com o público feminino. Começou pelo visual. Deixou as madeixas crescerem com a ajuda de um grande aliado: o gel. Na nécessaire loções e cremes para todos os tipos de ocasiões e temperaturas, revitalizantes e hidratantes para o corpo. Depilou o peito e as costas. Trocou o barbeiro pelo cabeleireiro, o boteco pelo shopping e o pagode pela academia. A moto foi substituída por um esportivo conversível. Passou a ouvir MPB e Jazz. Comprou livros e filmes clássicos. Um emergente dos mais disciplinados.

Depois de incorporar o estereótipo metrossexual restava-lhe a mais difícil das mudanças. A imagem deixou de ser bruta, rude, quase um Neandertal. O comportamento, porém, ainda estava sob a análise da mãe, da mulher e das colegas de trabalho. Elas diziam que ele mais parecia um punhado de espinhos escondido num formoso buquê de flores. Tinham lá suas razões. O cara simplesmente não sabia dominar o temperamento das cavernas. Tinha surtos psicóticos no mais comum congestionamento do trânsito e acessos de raiva por qualquer atraso, filas longas ou elevador emperrado. No quesito elegância verbal também não convencia. No Fla x Flu então...

Ficou assim submergido na vaidade por alguns dias até se cansar de ficar besuntado em cremes, mais parecido com um imperador romano. Abandonou de vez os caprichos estéticos e assumiu a identidade máscula, indiferente e autêntico de macho, esse animal tão comum que corre risco de extinção.

Cláudia Sabadini
Enviado por Cláudia Sabadini em 16/03/2013
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