Ele, o Papa
É impressionante como tanta gente procura a perfeição no semelhante. Há sempre alguém querendo desvendar mistérios, buscar arestas, possíveis falhas, pecadinhos, deslizes, tropeços. Seria bem mais fácil aceitar que temos todos alguma ou algumas, mínimas ou máximas imperfeições, pois assim Deus nos fez, criaturas do pó.
Não falta quem queira descobrir que políticos são corruptos, ladrões, fingidos, mesmo sabendo que, se no lugar de qualquer um deles estivéssemos, poderíamos fazer igual ou pior. Há os que desejam invadir a privacidade da vida alheia, apenas por curiosidade mórbida; os que gostariam de saber o que acontece na maçonaria, no Vaticano, no silêncio dos conventos. Há, no momento, pessoal especializado em apontar comportamentos do homem que acaba de se tornar Papa. Ainda bem que ele mesmo diz quem é, do que gosta, como vive e como vê o mundo. Ainda bem, pois isto economiza o trabalho de tantos. E economizar é a palavra de ordem que o Papa enviou aos seus conterrâneos para que não se atravessem em uma viagem de Buenos Aires até Roma para vê-lo entronizado. Entretanto, não se engane o simpático Jorge (agora Francisco), em sua simplicidade, pois muitos se aboletarão nos aviões para acorrerem às belas praças romanas. Bem gostaria de lá estar.
Não falta quem se encarregue de criticar a pompa e circunstância do Vaticano, mesmo o Pontífice tendo recomendado contenção e dureza jesuíticas. Eu gostaria, entretanto, de saber que graça teria o mundo sem todas as festas de que dispõe, sejam ricas e cheias de pompa, sejam simples, populares, carnavalescas, futebolísticas. Ah, tem gente que deveria morar em Marte porque assim acharia tudo um tédio sem fim.
E por falar em graça, o Papa tem toda. Esperemos que os chatonildos da Igreja não o invejem tanto a querer roubar-lhe o carisma, a bondade, o sorriso. Ele bem sabe quantos chatos estão por perto e por toda parte, por isto fez suas escolhas e recomendações à Santa Madre. Ela, a Santa Madre, agora pop star, foco das atenções da mídia mundial. Se foi sorte ou estratégia, eu não sei, mas, pelo menos, veio a calhar para a Católica em busca de renovação e há muito preocupada com o crescimento de umas religiões e a invenção de outras.
Com aquele jeito argentino e falando italiano, este Papa eclipsou, dominou a velha Roma e o mundo inteiro. Veio para renovar, da mesma sorte que o Novo Testamento foi inaugurado para aperfeiçoar o Antigo, para imprimir mudanças necessárias, tanto na Igreja quanto na sociedade. Quem sabe o Papa faça ver a esta sociedade com o dedo em riste, acusadora, metida a perfeita e justiceira que é chegada e, com alguma demora, a vez daqueles que Jesus amou: os pobres.