Crônicas da Comunidade: A Prova de Amor

Com essa aprendi que todo ser humano é um mistério e que, muitas vezes, para encontrar a paz é necessário abrir o coração, ou ainda, que podemos viver anos ao lado ou perto de alguém, sem que percebamos ou saibamos o que realmente vai em seu interior.

No churrasco de fim de ano do conselho de bairro de Independência - RS, na mesa de bate-papo, uma mulher contou-me as histórias de muitos membros de sua família. Ao falar do pai, contou algo inusitado.

Quando o pai tinha uns 70 anos (lá se vão 13 anos que isso se sucedeu), ela foi, no dia 23 de dezembro, na casa dos pais para planejarem o almoço de natal e juntos fizeram bolachas pintadas. A noite, retornou à sua casa.

Ela só soube dias depois, mas na manhã seguinte, 24 de dezembro, o pai acordou cedo, tomou o café da manhã, comendo dois pratinhos de bolachas enfeitadas. Depois, foi à casa da vizinha, uma viúva, que residia ao lado há anos. O objetivo era convidá-la para tomar um café e experimentar as bolachas.

Antes, havia pedido à sua mulher ir na costureira verificar se estava pronto um pedido seu de costura.

Ele havia comprado um saco, daqueles de pano branco, onde antigamente, nos armazéns, se armazenava o açúcar, a farinha. Aquele pano era considerado coisa fina naquela época e muitos costuravam roupas com ele. Pois, ele havia encomendado à costureira uma peça com aquele pano de saco. E desejava que a roupa fosse costurada e posteriormente bordada, de forma que ficasse linda.

A esposa não sabia do pedido e só deveria perguntar se já estava pronto. A costureira não podia revelar o que seria costurado. E assim, lá se foi a esposa para a costureira.

Algum tempo depois chega a vizinha. Ele a recepcionou na sala, com um prato de bolachas e uma xícara de café e enquanto ela comia e bebia, ajeitou-se no sofá em frente e começou a conversar.

Foi falando do tempo que moravam lado a lado, que sempre a acompanhou de perto, sua família e por fim, emocionado, revelou que sempre foi apaixonado pela sua pessoa.

Ela levou um susto e achou que ele, pela idade que tinha, estava surtando. Ele afirmou que era verdade, que a amava há muitos anos de todo o coração e que não aguentava mais viver sem falar-lhe sobre seus sentimentos.

Ela, sem saber o que fazer, disse outra vez que não podia ser verdade pois ele era casado, pai de família e a mulher dele era amiga dela, que também havia sido casada, tinha filhos e até netos.

Ele afirmou mais uma vez seus sentimentos e disse que tinha uma prova de amor para ela. Que ao receber essa prova ela acreditaria. Dito isso, ficou vermelho, colocou as mãos no peito e morreu.

Alguns dias depois do velório e sepultamento, a filha foi procurada pela costureira. A mesma lhe deu um pacote de presente e disse não saber o motivo, mas que o mesmo deveria ser entregue à vizinha.

A filha não sabia, mas aquele pacote era a prova de amor que ele prometera à vizinha, mas não teve tempo de entregar. Coube à filha entregar o presente. Curiosa, pediu que a vizinha o abrisse, para que ela também pudesse ver seu conteúdo.

O que viu lhe deixou estarrecida e sem ação: o pacote continha uma linda calcinha de pano de saco, delicadamente bordada...

Maria
Enviado por Maria em 16/03/2013
Reeditado em 16/03/2013
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