O Diploma de um tímido

Hoje lembrei meus tempos universitários, mais precisamente de um colega que terminou o semestre comigo, Henrique.

Homem tímido, calado, desses que a vida não ajuda, muito menos atrapalha. Um aluno estudioso e de rosto facilmente esquecido, apagado, por assim dizer.

Lembro que minha turma de sete pessoas, incluindo Henrique, foi aprovada em um concurso público e por isso precisávamos terminar o curso com urgência. Foi então que brigamos na justiça e por fim a universidade cedeu.

Fomos a primeira turma a estudar nas férias, todo o último semestre em um só mês, com aulas dobradas e muitas provas escritas. Por fim, nos formamos no prédio da própria universidade, sem festa nem nada. E sem diploma.

Como todo o processo foi rápido os diplomas não haviam sido impressos, então nos foi dado uma folha em branco, papel ofício comum. Uma simbologia apenas para as fotos.

Nesse dia da formatura apareceu um jornalista. Claro, uma formatura de sete alunos em pleno fevereiro era coisa rara na cidade, e nossa conquista no concurso foi muito importante para a instituição. Porém, ele estava ali por outro motivo: gozação.

O repórter escolheu entrevistar Henrique, um homem tímido.

Perguntou então: “Qual o sentimento de se formar e receber apenas uma folha de ofício? Será que seu diploma não vale nada?”.

Henrique arrumou os óculos e timidamente disse: “Você é jornalista e sabe muito bem que são em folhas em branco que escrevemos as melhores histórias”.

Não sei se foi devido à expressão que o repórter fez, ou simplesmente o fato de Henrique ter continuado sério, olhando a câmera como quem procura a Tv do outro lado, mas aprendi a nunca subestimar um homem tímido.

Juan Pedro e Samily de Araujo de Almeida
Enviado por Juan Pedro em 15/03/2013
Código do texto: T4190722
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