Onde me encontrar?

Já dizia minha falecida mãe: “... formiga quando quer se perder cria asas!” Ela tinha toda a razão do mundo. Não só cria asas, mãe, como também faz uso delas. Depois que tomei a decisão de me perder, nunca mais fui achado por mim. O eu desencontrado de mim espera em algum lugar o reencontro! Achar-se perdido dentro de si, é achar-se em total perdição de si mesmo. Deveria mesmo ter cortado os meus pensamentos e abstrações noturnas lá no meu Édem particular. Quando eu ainda me encantava com as frutas e árvores; com o frescor da manhã; com os rios cristalinos; com os céus; com os anjos. Nomeava os bichinhos. “Tocava” a manada. Dava de comer ao leão com as minhas mãos em sua boca. Lobos me acompanhavam no por do sol. Não trabalhava para enriquecimento ou sobrevivência. Não havia dores de parturientes. Nada me fazia cansar. Brincava. Sonhava. Corria. Era tudo muito inocente. Era tudo muito bom. “Té “ que um dia me afastei da minha companhia e fui andando, andando, e encontrei a ciência das coisa. Tornei-me ciente do ser; do mundo ao redor; da nudez humana. Tive medo e vergonha de mim. Pequei! Entenda isso por favor. Pequei. Qual foi o meu erro? Qual foi o meu pecado? Foi ter acreditado que ser ciente era ser feliz! E que para ser feliz tinha de despertar em mim toda a capacidade do ser, de ser ciente. E quanto mais ciente, mais felicidade. Que tolo fui eu! Fui expulso do meu paraíso! Um querubim forte e bem armado guarda os portais. Vivo hoje com dores e labutas. Meus filhos são amaldiçoados por minha culpa. E esta culpabilização me leva a ruína! Fui criado para a eternidade, mas agora, sinto cheiro e gosto de morte! Meus temores me alcançam todos os dias. Se materializam, corporificam, solidificam dentro da minha subjetividade. Estou caminhando sem saber se pra frente ou para traz. Minhas noites são mal dormidas. Meu pesar me pesa a todo momento. Tenho lutas diárias e constantes. Vivo com um pedaço de pão dormido e um copo de água “ardente”. Vivo na incerteza do viver. Tenho pesadelo acordado. Tenho “amigos” que querem a minha cabeça num prato depois que acabam de dançar comigo. Meus aniversários são festejados com velas de funeral. A despeito de tudo isso, meu espírito insiste em querer viver. Mesmo sem se sentir junto a mim.

Pense filoliveira.

filoliveira
Enviado por filoliveira em 15/03/2013
Reeditado em 21/04/2014
Código do texto: T4190659
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