"HABEMUS PAPAM"
Conheço o Altamiro há séculos!
Acho que ele nasceu com o virus "polemicus vulgaris", pois nunca o ouvi aceitar, de pronto, nenhum pensamento, sobre lá o que fosse.
O Altamiro é daqueles caras que, quando sentado com as pernas cruzadas, fica balançando, tanto o pé de apoio quanto o outro; você fala, expõe seu pensamento e ele nem aí e dá exatamente a ideia de que está pouco ligando para a sua exposição, mas, ledo engano, ele está é maquinando logo uma forma de jogar por terra o seu argumento.
Tem gente que foge dele como o diabo da cruz e os adjetivos mais publicáveis sobre seu comportamento são: chato, imbecil e aporrinhador.
Sentado num banco da praça, convenientemente sombreado por uma enorme amendoeira, ele lê, atentamente, o jornal do dia, que, em caixa alta, proclama: "O PAPA DAS AMÉRICAS" esclarecendo que trata-se do jesuíta Jorge Mario Bergoglio, Arcebispo de Buenos Aires.
Aliás, o Altamiro é o protótipo do contestador: amplas entradas sobre o crânio, grossos óculos com aro de tartaruga, rosto afilado, terminando com um fino queixo. Seu nariz acompanha o formato triangular do rosto e é marcado por um incipiente bigode, que mais parece um risco fino de lápis.
Ele é tão chato que ainda usa colete e, não por sua vontade, teve que desprezar as benditas polainas, por insistência e chorosos rogos da família.
Enquanto lê, aproxima-se uma incauta vítima, que, alheia ao perigo, age como aquele inseto que vai cair na teia de uma desumana aranha.
- E aí, Miro, lendo o seu jornalzinho, não?
- Oi, Godô, eu poderia dizer que estou jogando sinuca, mas não quero começar nenhuma discussão (!).
- Tá, tá! O assunto do dia é o resultado do Conclave e o mundo inteiro tá ligado nisso, hein?
- Todo mundo, menos eu.
- Mas você tá aí com o jornal na mão e muito atento.
- Claro, Godô, o jornal começa na primeira página, mas tem muito assunto lá dentro.
- Agora, falando sério, você assistiu tudo pela TV, o que achou?
- Um solene espetáculo, num cenário Renascentista esplêndido, mas extremamente demorado, considerando-se a necessidade de uma rápida solução.
- Puxa, Miro, só isso?
- Não, tem mais e muito mais. A sucessão de escrutínios, sempre aconteceu, mas o tempo transcorrido entre a saída da fumaça branca e a aparição do novo Papa, mais de uma hora, me surpreendeu.
- Mas é que...
- Godô, a Capela Sistina fica ao lado da Sala das Lágrimas, onde se encontravam 3 tamanhos de vestes para o Papa eleito e, apenas UMA porta a separa da Capela.
- Mas é que...
- Sem essa, amigo, o Papa deve ter alguém para ajudá-lo a se vestir, tipo um camareiro e isso, normalmente, não consumiria mais do que 10 minutos.
- Mas é que...
- Com aquela demora, sem o badalar dos sinos, achei que a euforia da multidão foi arrefecendo e comecei a suspeitar de que algo muito sério estivesse ocorrendo. Assim como: o Papa eleito, não suportou a emoção e teve um infarto; o encarregado de queimar os votos errou na mistura dos produtos químicos que dão cor à fumaça e saiu a branca, quando deveria ser a preta; o encarregado de abrir a porta da Capela Sistina perdeu a chave...
- Esconjuro, Miro! Mas, afinal, o Papa apareceu, falou pouco e bonito; é um homem simples, com ideias firmes sobre o caminho que a Santa Igreja deve seguir e é o primeiro latino, o primeiro com o nome de Francisco e o primeiro jesuíta.
- Aí é que o carro pega! Você sabe que o brasileiro tem fixação nesse ordinal e fica fulo quando alguém chega primeiro, principalmente se forem nossos "hermanos" argentinos.
- Pô, cara, mas isso não é campeonato de futebol, tenha dó!
- Será? Mas, olha aí, junta todos aqueles primeiros que citei, ao Maradona, Messi, ao S.Lorenzo de Almagro e espera só, que vem chumbo grosso.
- Nossa Senhora, Miro, você fala como um empedernido ateu!
- Eu? Pelo contrário, amigo, e até me lembrei das palavras do saudoso João Paulo II, que vou parafrasear: o atual Papa pode ser argentino, mas Deus é brasileiro! Apesar de tudo, tô com o Chico e não abro !
(NÃO DEIXE DE LER A COLEGA LENAPENA)