O brasileiro é, acima de tudo, um torcedor (Chico I é argentino)
Nós, brasileiros, temos por cultura a prática de torcer. Torcemos em todas as ocasiões, hábito que tem sua raiz nos índios, que torciam para que as caravelas que os visitavam não atracassem mais em suas terras. Olhavam com desconfiança e medo os homens brancos abusarem de suas coisas, sem luta.
A definição mais comum de torcer é estar de fora, mas desejar que algo aconteça a seu favor. É querer interferir sem participar diretamente, espreitar os acontecimentos passivamente com vontade que as coisas saiam da maneira que o privilegie. É mais ou menos como um general que manda os soldados para o front e fica esperando que a maioria não caia diante do inimigo.
Toda semana torcemos para que nosso time de futebol vença, mas dessa vez tivemos uma torcida inédita, pela primeira vez vivemos a expectativa de eleger o sumo pontífice da igreja que tem mais adeptos entre as nossas religiões. Foi emocionante, contagiante, de um lado os católicos com suas bandeiras brancas e amarelas e do outro os evangélicos com suas cédulas e bíblias em punho, fazendo os seus “descarregos” para evitar a vitória da equipe eclesiástica da igreja de Roma.
De nada valeu a torcida entusiástica, porque quem levou melhor foram os hermanos, há tempos que não sabemos o que é vencê-los, e o conclave elegeu Chico I como o primeiro papa latino americano, torcedor do San Lorenzo, adora tango e anda de ônibus. Se o papa fosse brasileiro seria mais interessante porque seria flamenguista mangueirense e realizaria missas na Central do Brasil.
Outro fato inédito foi a primeira transmissão, ao vivo, pela televisão, rádio e Internet, de um júri popular. No caso em questão o assassino inconteste de sua ex-namorada, foi condenado a vinte anos de reclusão, mas como a justiça brasileira é “boazinha”, só ficará em regime fechado por oito anos. Semanas antes houve outro julgamento de repercussão nacional onde o réu, assassinou o pai e a madrasta, foi condenado a trinta e três anos de regime fechado e saiu pela porta da frente do tribunal com o direito de recorrer da pena em liberdade.
Enquanto estivermos só na torcida, nunca veremos esse país lindo e maravilhoso dar um passo a frente com objetivos claros de crescimento. E não culpemos o juiz que leu a sentença, nem os jurados que condenaram, porque a culpa é nossa, somos nós que elegemos as ratazanas e elas se utilizam da caneta em causa própria. Não podemos ficar torcendo como os índios, nem ter a fé dos fiéis, para um time que se protege no corporativismo e que não está nem aí para a nossa torcida.
Ricardo Mezavila