Era para ser uma aventura curta
Marija Simic é o nome de uma estudante de medicina Sérvia que conheci no Hotel onde trabalho, ela se hospedou com outra colega durante o Carnaval, e por lá permaneceu durante nove dias; tempo suficiente para trocar algumas palavras em português com ela e aperfeiçoar o meu inglês. No conversa puxa conversa rapidamente me fui tornando próximo dela, alguns dias depois estava sentado num bar na Lapa conversando ao som do samba. As horas foram caminhando a um ritmo vertiginoso, a conversa percorria várias etapas, misturando vários olhares que se tornaram cada vez mais intensos. Chegou a um ponto em que ela me olhava de uma forma tão avassaladora que parecia que estava tentando me hipnotizar. Eu sorria, sorria... e ás vezes desviava o meu olhar, uma lágrima queria sair, mas eu a segurava.
Essa coisa de ser sensível é um porre, têm dias que gostava de ser o homem aranha das mulheres: de pegar uma todos os dias e jogar para trás das costas a vergonha ou qualquer tipo de ressentimento que eu poderia eventualmente ter. Ontem estraguei tudo: estraguei a noite dela, estraguei o momento que ela tinha sonhado... ferrei com tudo, e tudo por este meu jeito de não querer que as coisas sejam fugazes. Ela pediu-me uma aventura, eu queria muito mais, ou melhor, eu quero. Mas caro leitor, quem sou eu para exigir um sacrifício tão grande a uma pessoa que está de malas aviadas para o seu país. Quem sou eu para pedir o que quer que seja a uma moça que mal entende o que eu falo. Fui cruel, eu sei, ainda hoje sinto um peso sobre o meu corpo, mas ao mesmo tempo acho que fiz o certo, evitei que algo maior explodisse dentro de mim, e que face ás circunstâncias me deixaria num estado de profundo sofrimento. A questão ali era beijar ou não beijar, eu acabei por decidir não provar... vai que eu gostasse do vinho, aí o desprendimento ia ser bem mais complicado.
A vida tem destas coisas, a gente procura, procura e nada acha, no dia em que algo aparece do nada, ela se vai, e nunca volta.