Amiga Oculta.

AMIGA OCULTA

Ana aparentava uma bela mulher sexagenária. Sempre elegante em todos os aspectos. No vestir, no tratar as pessoas e no portar-se em todo e qualquer tipo de evento. Luzia por acaso viu sua data de nascimento no RG e ficou pasma quando constatou que ela era uma setuagenária. Tem gente que ainda aposta que foi erro de cartório. Ana deve estar ainda na casa dos cinqüenta., dizem alguns.

Todo mundo quer saber o segredo de se permanecer tão jovem e feliz. A resposta de Ana é sempre a mesma. Amigos, amigos, amigos. E explica: temos que ter amigos para todos os momentos de nossa vida. Aquele contador de piada pra fazer a gente rir, aquele que nos convida sempre para uma festinha, aquele que nos procura para contar seus problemas e desabafar suas mágoas, aquele que nos convidam pra rezar, outros pra viajar e aquele que nos aconselha que nos dá a mão e que chora com a gente nas alegrias e tristezas.

Ana chorando e triste é coisa que alguém duvida. Mas ela afirma que é uma pessoa normal. E como qualquer um tem problemas, tem dias cinzentos em sua vida. Que nesses momentos recorre a “Mélia” uma velha amiga que todas as manhãs escuta suas alegria e lamúrias. Por outro lado explica Ana, uma mão lava a outra. Eu cuido de “Mélia” que já tem um idadezinha. Dou-lhe carinho e afeto.

Interessante que ninguém via a amiga de Ana. Era oculta. Não a levava a nenhuma festividade. Não a convidava nem mesmo para festas natalinas e outros eventos que organizava com todo esmero.

Algumas vezes chegou atrasadas na hidroginástica alegando que “Mélia” estava doentinha. Que teve que dedicar alguns minutos para a velha companheira e amiga. Quando alguém demonstrava o desejo de visitá-la ela desconversava. Não, ela já está melhor.

Suas viagens eram rápidas. Primeiro porque gostava mesmo de sua caminha, se seu copo, do cheirinho de sua casa. Depois que porque “Mélia” precisava de seus cuidados.

Luzia era bisbilhoteira e chegou até a comentar o motivo do esconderijo de “Mélia”. Ana confidenciava tudo a essa grande amiga e não queria correr o risco de deixar expostas particularidades de sua vida. A sua amiga oculta e confidente poderia sem querer deixar escapar algumas particularidades de vida de Ana que preferia permanecer na intimidade.

Um dia Luzia foi visitar Ana sem agendar antecipadamente. Encontrando a porta semi-aberta escutou a conversa das duas amigas. Aliás, só Ana falava.

- Mélia, você está tão bonita hoje. Vamos para sacada pegar um pouquinho de sol. Faz bem. E continuou a conversa.

- Ontem fui uma festa maravilhosa. Me divertir bastante. Fui muito cordial com aquela pessoa que me magoou e percebi que ela estava arrependida de ter me desdenhado naquele dia.

Luzia, ainda com o ouvido escutando na porta entreaberta não entendia porque a outra nada respondia. E permaneceu na escuta.

Quando a vizinha de Ana vinha se aproximando Luzia, cuidou de ir embora rapidinho porque estava fazendo um papel ridículo. Depois pensou até que poderia ter adentrado na casa da amiga, mas sabe aquela história de se ficar desorientada quando se é pego fazendo uma coisa errada?!!....

O pior é que a mexeriqueira imaginou que ‘”Mélia” fosse uma pessoa doente e desprovida da fala. E saiu contando para um e para outro, coisas que imaginou sem constatar os fatos. Chegou até dizer para alguém que ela deveria ter alguma doença contagiosa que não poderia estar no convívio das pessoas. Só não entendia porque ela tinha tanto força sobre Ana. Em muitas ocasiões ela deixou claro que o motivo de seu brilho, de auto-estima era essa grande amiga. Que com ela desabafava todas as manhãs. Que era muito bom ter uma pessoa que lhe ouvisse, com que pudesse falar sobre o seu dia. Ela admirava “Mélia’. Tinha uma beleza ímpar. E dizia explicitamente que todo mundo precisava de uma “Mélia” em sua vida.

As fofocas rolavam em torno dessa história. A feminilidade de Ana já havia até sido questionada por causa dessa amizade as escondidas. Quem teria causado esses transtornos? Vocês imaginam?

Para por fim a tudo isso, Ana resolveu fazer uma festinha em sua casa. Queria acabar as conversinhas fúteis e calar de vez a Lúzia e outras de seu naipe. Apresentaria sim, “Melia” nessa noite.

E lá pelas tantas, quando todos esperam com expectativa a tal amiga misteriosa, Ana adentrou com um lindo jarro de “Bromélia” apresentando sua amiga, confidente, bela, muda, que enfeitava sua sala, sua casa e sua vida com sua beleza natural e o silencio de quem sabe escutar.

E no final da apresentação disse: Na vida tudo tem um preço. Para conquistar essa amiga, a “Bro - Mélia” , foi preciso plantar, adubar e amar. E para permanecer a amizade tenho que cuidar. Será eterna enquanto cuidada.

Maria Dilma Ponte de Brito
Enviado por Maria Dilma Ponte de Brito em 19/03/2007
Reeditado em 20/05/2020
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