NADA
Hoje nada de extraordinário, nada é novo.
Nada se manifesta do inesperado.
Esse dia é como se já houvesse sido escrito. Não acontece nada no seu roteiro original. E seja quem o estiver vivendo mergulhados no espesso óleo da rotina e cuja última essência é apenas mesmice e tédio.
Tudo ou nada, mas acho, a meu ver, o mundo, parece estar ficando desfocado.
Hoje, o respeitável facultativo sorriu, brincou com os meus medos, meus sentimentos, mas afinal consegui escrever até aqui e dizer que não quero perder de vista as maravilhas de que tanto gosto, como o amanhecer e o anoitecer, a visão do mar azul numa solar manhã de domingo, as letras gravadas num papel, o voo de um pássaro, a explosão festiva de flores num jardim. Sim, bem sei que, às vezes, sou dramático, chato, mas mal nenhum a ninguém faço, sou demasiadamente inofensivo. Há dias tão tediosos, de tão parca inspiração, que só consigo escrever aleivosias uma atrás da outra, que eu próprio desconfio e chego a me espantar com a minha estultice, mas que ao cair da noite, a minha imaginação volte a dar lampejos de algum brilho e eu possa brindar os que me leem mais uma crônica exemplar, ligeiramente crônica ou ligeiramente poética e que meu dia vivido não seja em vão.