O Caronista
Na década de 60, numa colônia agrícola do Vale do São Francisco, mais precisamente no município de Petrolândia, sertão de Pernambuco, a posse de veículos motorizados era privilégio de poucos. E ali o número de carros oficiais era maior do que particulares. Oferecer carona a quem lhe estendia o braço era um ato de cidadania. Ninguém negava esse favor se houvesse vaga no seu veículo. Mesmo nos carros oficiais essa prática era adotada, até como um gesto cívico, pois, sendo do governo era público. Havia um cidadão que ficou conhecido por todos os motoristas, pelo hábito de pedir carona para qualquer que fosse o destino. Como é de praxe, ao parar o carro, o carona pergunta para onde vai, a fim de descobrir se o destino lhe interessa. Entretanto, aquele caronista aceitava qualquer resposta. Não importava se para a direção norte ou sul, leste ou oeste. E assim se justificava: “eu ia para tal lugar, mas como tenho negócio também no lugar aonde você vai, vou aproveitar”.
Desse modo, o motorista nem podia negar-lhe carona, dizendo que ia para um lugar diferente do seu desejo. Servia-lhe qualquer destino e qualquer lugar. Parece até que seu único desejo era mesmo o de “andar de carro”, sem nenhum custo.
Para seu desalento, eis que surge o governo de Jânio Quadros e logo adotou a restrição para os carros oficiais, pintando-os de preto e colocando a expressão – “Uso Exclusivo em Serviço”. Enquanto os motoristas do serviço público gostaram da medida, o caronista passou a xingar o “homem da vassoura”, como ficou conhecido o Presidente.
Com a sua renúncia, logo a coisas voltaram a ser com dantes e o caronista vibrou por poder continuar utilizando os carros oficiais. E batia no peito orgulhosamente, dizendo que o seu xingamento teve efeito telepático, chegando até Brasília. E o homem da vassoura não resistiu ao caronista, que continuou no bem bom.