A dor da renúncia
A dor da renúncia
O mundo foi pego de surpresa. Ninguém esperava que num dia qualquer, a autoridade máxima da religião católica de repente, jogasse a toalha. Mas ele jogou. O Papa Bento XVI, responsável pela unificação e continuidade da igreja desistiu de seus sonhos. O peso da idade e a fragilidade que vem com ela, além dos pecados que pesam sobre os ombros da humanidade o fizeram querer parar de lutar. Acontece isso com todo mundo. O ser humano enfrenta desafios, adversários e até mesmo dogmas, para defender aquilo em que acredita. E com um papa não é diferente. O que distingue esse homem dos guerreiros comuns dessa vida foi a sua sensatez em se mostrar impotente para enfrentar as intempéries que teimam em pairar sobre nós e ter a humildade de ceder seu lugar a outro.
Acredito que a igreja ainda tem as portas muito estreitas para a dimensão de liberdade que o homem está projetando em suas ações. A questão moral e ética, que antes era tão respeitada e preservada na construção das famílias, de repente está passando para segundo plano, derrubando mitos e tabus, além de estraçalhar pensamentos arraigados por séculos na nossa história.
Muita coisa mudou de muito pouco tempo para cá. A conectividade com o mundo e a influência de comportamentos dos diversos grupos sociais mudaram estruturas, criaram novos conceitos e transformaram o homem em todos os aspectos, sejam eles éticos, morais, culturais, religiosos e comportamentais. Ninguém é mais como eram os nossos avós e até mesmo, os nossos pais. Hoje tornou-se fácil passar por cima dos outros para se conseguir o que quer. O respeito tornou-se secundário diante da ambição do homem, do materialismo que domina a sociedade, onde cada um quer ter mais que o outro a qualquer custo, mesmo que esse seja a honra ou a vida. O homem está embrutecendo o seu interior, apesar de exteriormente estar cada vez mais polido. A luta pelo poder em todos os escalões da sociedade está matando a fraternidade e a solidariedade que Jesus tanto pregou em sua passagem pelo mundo. E a religiosidade que é capaz de suavizar e lapidar o ser humano por mais bruto que ele seja, está perdendo espaço para a efemeridade e a futilidade das coisas que cada vez mais seduzem as pessoas.
Acredito que possam ter sido essas algumas das razões para a desilusão do Papa em sua jornada. Pisar em terra bruta, escalar montanhas íngremes num mundo que de repente passou a ter um coração tão duro, dói. E dói mais ainda quando aquele que é o caminheiro para iluminar o caminho está com o corpo abatido e cansado. Então nada mais justo que uma trégua, uma pausa na caminhada. Só espero que aqueles que irão indicar esse alguém que virá tenham os olhos mais voltados para a vontade e os desígnios de Deus que a prepotência e a ambição dos homens. Afinal, a igreja nasceu do exemplo de amor e humildade Daquele que fincou a primeira pedra...