O corolário
O professor entregou o boletim. Não existe mais boletim, mas existia. Era o boletim das notas. De um a dez. Eu tinha dez em quase tudo. No comportamento tinha nota 7 e em Matemática, suspiro, nota quatro. Uma nota que nem dava para passar. Então troquei o tema pelo teorema, a paixão pela divisão, o vocabulário pelo corolário. A nota subiu de 4 para 5 e eu passei.
Agora sou formado, sou doutor. Em Letras. Todo mundo fica me dizendo que o Universo é feito de números, que a Matemática é a linguagem do Cosmos... O que vou fazer com todas essas palavras que aprendi? Não sei não, acho que vou ficar mudo, calado, diante da certeza implacável dos algarismos. Recentemente, porém, a Física Quântica reconheceu. Existe o “princípio da incerteza”. Parece absurdo, mas é isso mesmo, matemáticamente falando, existe até a fórmula. Então, esperançoso, pensei: quem sabe, a perpendicular se transforme numa paralela, paralela ao meu pensar, e se encontre comigo, no infinito de meus versos. Quem sabe?
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