A falta do novo
A falta do novo
Não é possível encontrar o novo quando tudo converge para a repetição. A essência é moldada na busca de uma resposta imediata e, então, passa a não existir. Segundo Aristóteles, somos acidentes e a essência é inacessível. Sabendo disso pergunta-se: o que é essência, seria a origem, o começo?
Nietzsche falou do eterno retorno, assim, a vida, então, passa a ser cíclica; é a repetição contínua. Tudo passa a se repetir e o ser que deveria ser único convive com seus seres repetidos; os próprios “eus” internos. O bem e o mal sorriem da mesma maneira, o amor e o ódio têm a mesma força; é a vida contribuindo para a pobreza da existência.
Se não há novo até a reprodução passa a ser banal e corriqueira, pois é apenas necessidade da existência. Olhando a natureza e os seres vê-se que tudo anda em direção ao fim e não ao futuro. O que chamamos de futuro é, apenas, a linha da existência em sua diacronia. Pensando por tal ângulo todos fazem parte da conspiração da vida, no jogo da blasfêmia imposto pela existência. A origem foi transpassada, a essência maculada e, o novo, já está obsoleto.
Platão queria escapar do fato em si passeando pela imaginação, mas ele mesmo sabia que ninguém conseguiu escapar da “caverna”; as sombras ainda assustam e a luz ainda ofusca. Freud acreditava que o inconsciente era a verdadeira realidade, mas sabe-se que está fora da nossa percepção e controle. A essência então estaria no inconsciente? O novo estará guardado em uma gaveta, na qual, não se tem acesso? Talvez, no inconsciente esteja o ser verdadeiro, aquele que J.J. Rousseau afirmou que foi corrompido pela sociedade. O “eu” esquecido é uma identidade que passa não existir, que é reflexo de um mundo imediatista e fragmentado. É o homem e todas as coisas sem um propósito, sem liberdade, apenas... nascer, viver e morrer; a obra do mundo pintada em cores plúmbeas e em um arco-íris incolor.
O novo o que será então? Romper com o determinismo da existência poderia consolidar a liberdade, a almejada liberdade. Mas como libertar-se do fim? Não há fim quando não pensamos nele, quando se vive e pronto. Mas a vida requer mais que vida, requer identidade; o ser maculou a sua essência para atender às necessidades da existência. Não encontraremos nada e muito menos tudo, enquanto estivermos acomodados assistindo apenas a existência trabalhar. Existir é morrer para nascer todo dia, é encontrar um “eu” deus e criar amiúde um mundo que o mundo não caiba nele.
Se Descartes pensou e, logo, existiu, façamos, não como ele, mas como Edmund Husserl, que refletiu sobre o refletido e achemos meios de justificar a vida através do meio. O fim já está determinado, programado e a vida é repetitiva, assim, o homem torna-se, apenas, parte e não o todo; um fragmento repetitivo. Destarte, o novo ainda está por vir em um porvir sem novidades.
Mário Paternostro