Leitura a luz de velas
Tem certas memórias de nossa infância que ficam muito marcantes. Final de tarde, quando começava a escurecer minha mãe acendia velas na cozinha. Tinha sido um dia longo pra ela, e mesmo assim depois de tantos afazeres ela ainda nos proporcionava momento de pura magia. Meus irmãos e eu sentávamos à mesa com os olhos e ouvidos atentos... Lá vinha mais uma historinha. Ela lia os livros comprados com sacrifício, uma coleção de capa dura e boas estórias, uma delas me deixava bem assustada, era o “O Barba Azul”.
Não gosto muito de homens com barba até hoje, acho que a figura daquele homem mau, de barbas grandes contribuiu muito pra isso.
Foram muitas noites de estórias à luz de velas, de repente numa noite a luz voltou e voltamos a fazer outras coisas, víamos TV, ou brincávamos na varanda. A leitura ficou sem a magia da luz de velas e sem a mesma freqüência.
Um dia perguntei por que a gente ficou sem luz tantos dias, ela me respondeu que tinha acontecido “uma coisa” e atrapalhou de pagar a conta de luz. Deve ter sido uma maneira rápida de livrar-se das perguntas.
Lembro-me que fiquei no mês seguinte torcendo para acontecer “algo” de novo, gostava das brincadeiras, mas nada era melhor do que sentar perto da minha mãe e ouví-la contar as estórias à luz de velas...
Rose Benicio