Trivialidades

Trivialidades




Semana passada ou perto disso vi alguns trechos de “O Senhor dos Anéis” e fiquei matutando que toda essa odisséia gira em torno de uma criatura muito, mas muito malvada, cujo poder cresce a cada dia no intuito de fazer mais maldades. A propósito, a criatura em si nem encarnada está, mas seu poder cresce. Bom, isso é um conceito. Graças aos céus, já podemos ler coisas, tais quais: o ódio não tem poder por si mesmo. Para quem ainda não entendeu, segue o diagrama: “Estes seres defasaram-se de tal forma da evolução humana que não podem sequer reencarnar, nem religar-se à forma e ao corredor ascendente. Serão reconduzidos a evoluções que se encontram no princípio da oscilação matéria/energia. Têm que readquirir, de novo, em níveis abissais em termos de tempo, a capacidade que a mônada tem de se vincular à matéria evolutiva”. Palavras de André Louro de Almeida.

Também aproveito esse texto, essa crônica ou esse espaço, tanto faz, para agradecer ao jornaleiro de uma das bancas da praça Nossa Senhora Aparecida, em Moema, por ter deixado aberta a revista Carta Capital, na matéria de 30 dias atrás ou algo assim, que trata da Imbecilização do Brasil. Foi muito ilustrativo e o autor, com extrema competência, colocou em palavras tudo aquilo que eu pensava (e tenho certeza que não sou o único), sobre a, hã, atual situação cultural.

Segunda-feira retrasada, outra pessoa que verbalizou de um modo no mínimo incrível e que trouxe uma tonelada de conceitos novos e positivos sobre o que deveria ser a área da política foi a ex-candidata Marina. Justiça seja feita, essa senhora falou bonito e o conteúdo do seu discurso encontra eco em várias partes do mundo. São manifestações espontâneas de pessoas que em última análise estão absolutamente de saco cheio de demagogia.

Dentre os bombardeios mentais vindos de toda parte, vi um sujeito numa lan house, clicando num lay out que expressava: Final Feliz é uma coisa inventada pela Disney. Ou seja, a turma curte mesmo uma serra elétrica e um massacre. Impossível vender para eles um lago dourado, árvores, hidroanel, música com linha melódica e arranjos, etc.

Você acha que a gangue do goleiro fez aquelas maldades todas por falta de escola? Ou, se preferir, de educação?
Veja, não estou julgando, estou pensando no assunto.

Salvo engano foi no hemisfério norte, coisa de no máximo 10 anos atrás, alguém com encéfalo fez uma pesquisa baseada na classificação por faixa etária do humano de 55 anos, macho ou fêmea, e sua decorrente exigência ao consumir, seja produtos, seja politicagem. É bem interessante, mas não sei se aplica na nossa realidade.

Na TV a cabo, quando os filmes começam no horário e quando não somos assolados por animações e outras inserções em plena tela, resta a questão dos anúncios no meio da exibição que em alguns casos chega a ser aviltante. “O Ipsilon” exibido pelo super canal Xis, com pretenso início às 23 horas, bem...às 23:12 – anúncios, das 23:20 até 23:28 (uau, 8 minutos de filme), corta, anúncios até 23:36, o filme recomeça e às 23:45, anúncios de novo. Puta que la mierda, isso não é diversão, é martírio. A tônica do capitalismo do presente cá nos trópicos embriagados desfia sua crua ladainha através da tenra filosofia: nós não ficamos apenas com o bolo, levamos também as migalhas.

“Livre pensar é só pensar” era o título da página dupla que Millor Fernandes tinha na Veja. Aquele espaço era um maná sem igual para quem buscava horizontes.

No Bus Mídia, ou Bus TV, sempre confundo, alguém gabaritado explica os acentos na Nova Ortografia. Impressionante como a máxima do Millor ficou em minha mente. Me lembrei do Hangul, inventado há 560 anos pelo rei Sejong. Esse sistema captou os sons da fala nativa coreana e, de acordo com outros gabaritados, é a melhor explicação da falta de analfabetos na Coréia. Outras fontes confirmam que muitas culturas estão adotando o Hangul justamente por adequar melhor os sons de sua língua. Faz-se necessário dizer mais alguma coisa?

Está mais do que na hora de alguém, depois de ganhar uma medalha e um aumento de salário, inventar um sistema de TV social 24 horas para apenas reportar as intempéries na capital. Não me parece que seja necessária uma tecnologia alienígena para auxiliar o cidadão desavisado sobre o quilate da tempestade – onde está, quais estragos fez, quais são as alternativas.

Enfim, esses são alguns dos rascunhos sobre o pequeno mundo à minha volta.

Boa vontade já virou um artigo trivial aos que almejam um viver melhor.
Vontade boa me sugere algo mais adequado ao momento.


(Imagem: Abu'l-Hasan,  1589 - 1630)

 
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 11/03/2013
Reeditado em 30/05/2021
Código do texto: T4182585
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