SALVE-SE QUEM PUDER
Numa pele de cordeiro a rainha se vestia. Não entendia de nada. Não conhecia bicho nenhum. Sempre morou em palácios. Entendia de festas e de joias, mas de bichos não...
Há gente assim que não entende nem de merda, como entenderá de bichos.
A tal rainha mais parecia a rainha de paus. Matem! Era sua ordem favorita. Outro dia sugeriram que se fizessem saraus, muito em voga no reino. Com música e poesia. Ela chegou no final da conversa e sem muito compreender de cultura, nem sabia a diferença entre “poesia” e “poema”, gritou matem! Matem todos os saraus! Não quero meu reino infectado por estes bichos. O silêncio foi geral e ninguém naquele momento atreveu-se a dizer qualquer coisa.
Havia um rastro de sangue por onde a rainha andava. Era certo que “a louca” estava menstruada e ainda, por cima numa crise de “TPM” (Tensão Pré-menstrual). Ninguém iria se arriscar. Nem seus ministros e ministras mais influentes.
Não era só uma crise cultural e verborrágica que a rainha sofria, mas ela constantemente saia da “casinha”.
Pensamos que mesmo sem muito entender um verso poderia ajudar e convidamos um músico francês que visitava a cidade para que visitasse o castelo e com ele mandamos o Príncipe poeta para entoar uns versos.
Oh Rainha! Tão encantadora,
És na colmeia a responsável
Pelo mel que nos adoça os lábios
Receba nosso néctar
No perfume desta canção
E que seus dias sejam encantados
Como é encantador este teu reino
Como é sublime aqui a primavera
Os raios de sol que me aquecem a pele
Da mesma forma como eu
Ficaria encantado um dia
Pudesse aquecer meu corpo no teu...
Deslumbrada com os galanteios poéticos-musicais veio a rainha, toda sorrisos, compreendendo o que era um sarau.
Desta forma salvaram-se os saraus, condenados por ela à morte.
Desde então o reino que tinha um aspecto triste, além de louco, passou a ser mais alegre. As loucuras continuavam, mas havia alegria nelas.
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11.03.13