Meia noite em Paris e um drinque no Anjo Azul
 
Eu sempre admirei Wood Allen, assisto todos os seus filmes. Mais do que isto, eu analiso, vejo e revejo. Um dia, uma colega, que é Relações Públicas da Embrapa, me contou sua peregrinação por Manhattan para descobrir o barzinho em que o premiado cineasta se diverte tocando clarinete. Que inveja! Eu sabia da paixão de Wood Allen pelo jazz, não sabia deste happy hour grátis, toda sexta-feira. Espero, no dia em que EU for a Nova York,  Wood Allen ainda curta tocar jazz em barzinhos da ilha de Manhattan.

Hoje eu assisti um filme que me faltava na coleção: "Tudo pode dar certo". Não há como resistir à sutileza de suas piadas. Em "Tudo pode dar certo" ele surpreende com namoros inusitados, casais gays que se formam inesperadamente e ménages à trois. É irônicamente típico de Allen o comentário sobre o ménage à trois: "Nada de bom vem da França!"  Depressão, loucura, inquietações da alma, traições, roubos, problemas financeiros, tudo que faz parte do seu enredo, por maior que seja o problema, tem o lado hilário e provoca risos sutis. Nada de gargalhadas.
 
Alguns comentam sobre a superficialidade dos temas abordados por Wood Allen. Não concordo e me impressiono com o ritmo ininterrupto como produz, uma  película por ano desde 1966. Desta data até hoje em apenas dois anos parece não ter filmado. Nos seus filmes Allen é, em geral, fraco, indeciso, hipocondríaco, desarrumado e vítima de ansiedade. Certamente o inverso da personalidade que deve ter. Afinal trabalhar tão ininterruptamente requer força, determinação e coragem para enfrentar críticas e toda parafernália que envolve uma produção cinematográfica. 
 
 Não sei qual dos filmes de Wood Allen me agradou mais. Lembro muito a "Rosa púrpura do Cairo". Mas me diverti bastante com "Vicky, Cristina e Barcelona" e "Meia noite em Paris", estes desta fase em que, esquecendo um pouco Nova York, ele resolve peregrinar por outras cidades e cenários. Ainda me falta na coleção "Para Roma com Amor". Não vi e certamente vai me tranportar na película à Fontana de Trevi, local do memorável banho de Anita Ekberg, em "La Dolce Vita" de Fellini.
 
Sorrisos à parte,  "Meia noite em Paris"  mostra o glamour, a efervescência dos anos 20 na capital francesa e, o mais importante, a riqueza de diálogos "vivos" com Hemingway, Picasso, Dali, T.S. Eliot, Fitzgerald, Luis Buñel!!! São sublimes momentos para Gil Pender, o escritor que "fantasia" e realiza a volta no tempo, na busca por inspiração e razão de viver. São duas horas fascinantes e de fantasia para os cinéfilos saudosistas e nostálgicos que viajam pela Paris de hoje e da década de 20.
 
Bom seria se na vida fosse assim. Magicamente, nem que fosse por instantes, poder conviver ao lado de Hemingway, Gellhorn, John Lennon, Rita Hayworth, Grace Kelly. Como baiano, não pude fugir de pensar também num longo papo, ao vivo, com Caymmi, Pierre Verger, Glauber Rocha, Jorge Amado, Zélia Gattai, Vinicius de Moraes... Se possível, numa mesa da lendária boate Anjo Azul, reduto destes artistas, que minha pouca idade à época não permitia frequentar.
 
O filme “Meia noite em Paris” é isto, nos leva a sonhar, brinca com o presente e o passado. Uma brincadeira com a liberdade que só é permitida a artistas e poetas. Wood Allen se superou. Ano que vem tem mais e no outro ainda mais. Que gênio! 
 
Ygor Coelho
Enviado por Ygor Coelho em 09/03/2013
Reeditado em 27/12/2013
Código do texto: T4180135
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