Coisas de mandinga
Aconteceu em outubro de 1998.
Não num agourento mês de agosto, nem numa sexta-feira dia treze. Aconteceu em um domingo, 25 do mês de outubro.
Dia da decisão do segundo turno. Fatídico.
Também, a providência divina não precisava exagerar tanto! Não se condoeu nem um pouquinho com o estado já bastante debilitado de minha irmã, Professora Municipal e Estadual, que acaba de sair de um quadro clínico de depressão de causas, possivelmente psicossocial e por que não dizer financeiras.
TRILIM...Toca meu telefone:
-Alô!
_ O Lucas chegou aí?
_ Que eu saiba, não.
Minha mãe chega em meu socorro:
_ Esteve sim! Acabou de sair em companhia do Rena, foram cumprir o dever do voto.
Minha irmã pergunta: _ Ele não chegou aí, com uma caixa, tipo preparada para carregar algum animalzinho de porte pewueno?
_ Não vi. Quando ele chegar, peço pra ele ligar.
E ela continua:_ A caixa estava no quinta. Não sei de onde veio. Bom, a caixa está ali, só que vazia. E o bicho, onde se meteu?
_ Fica tranquila. Quando ele chegar, peço pra telefonar. O bicho não, o Lucas.
Algum tempo depois o Lucas chega.
_ Lucas, liga pra sua mãe.
_ Oi mãe!
_ Lucas, a caixa está vazia. O que você fez com o bicho? Era um sapo? Tinha a boca costurada? Meu nome estava escrito com letra de forma? Ele pulava?
_ Não sei mãe. Uns garotos tocaram a campainha e me pediram a caixa. Esvaziaram_ na e tornaram a jogá_la no quintal. Não sei o que tinha dentro.
_ Mas a caixa está aqui aberta. Onde está a bomba relógio ou qualquer objeto de mandinga pra acabar de vez com minha vida! Valha_me Deus!...
O Lucas já gaguejava no telefone.
O Rena que escutava tudo, e já esgotado com a terrível decisão frente as urnas, pega o telefone:
_ oi tia, acho que não era sapo. Se era bomba relógio, vai acabar estourando em nossas mãos. Sempre estoura nas mãos dos mais pobres. Se era gato preto, aguarde o resultado da eleição. Daqui uns dias verifique no seu contra-cheque.
_ Relaxa tia! Afinal são só quatro anos. E até lá, o sapo resolve vomitar seu nome.
Quase quinze anos! E nada do sapo vomitar o nome dos professores que são os educadores de cidadãos, que um dia não sei bem, poderão governar este Brasil!