A DOR DO SERTANEJO
Por motivos superiores estou morando no mais alto sertão de Pernambuco. Dez horas de viagem, calor insuportável, água é coisa rara e o custo de vida altíssimo. Ainda custo acreditar, mesmo sendo nordestina, que ingenuamente aceitei àquilo que me empurraram goela abaixo: o sertão está virando mar.
Outra realidade que tenho a infelicidade de contemplar todos os dias é: animais mortos por causa da seca,o uso de água de barreiro para consumo humano, hospitais abarrotado de pessoas com desarranjo intestinal por causa da água contaminada, cidadãos carregando água utilizando jegues, salário miserável que precisa ser complementado com caça, animais que estão na lista vermelha sendo caçados para aliviar a fome de uma população jogada às traças.
A conta d’água não erra de endereço. O valor não baixa. Na torneira não há água. Um carro pipa custa R$ 320,00. O pobre contenta-se em receber 200 litros por semana( quando tem). Banho nem pensar. É luxo pra ser colocado em prática uma vez ao dia e deixando a água cair numa bacia para ser reaproveitada em outras atividades, por exemplo: lavar calçada, banheiro, etc.
Doi perceber a passividade do povo, que concorda com tudo e assim vai vivendo, sem sonhos, sem expectativa de dias melhores, enquanto isso, nossos representantes enchem os bolsos e vão vivendo na era do ouro. Nas escolas municipais começaram as aulas, mas não há merenda. Nem tão pouco, pausa para descanso. As faculdades estão distantes( inconcebível pensar estudar enfrentando perigos na estrada e passagem alta), as que decidem encarar oferecem aulas apenas nos finais de semana ( duas vezes ao mês).
Assaltos são motivos para piada. Rico e pobre não escapam. Os caminhos de fuga são verdadeiros labirintos. A polícia tenta, mas para o poder de fogo dos marginais nem chegam perto. O jeito é baixar a cabeça e chorar.
Choro pelo pai de família que vai trabalhar, mas não sabe se volta porque no meio do mato há gente de ‘tocaia’ para tomar a motoca. Choro pelo ancião que vai receber seu aposento e na fila quilométrica é alvejado. Choro pela criança que é levada ao hospital cujos funcionários estão dormindo e por isso, as portas do prédio estão cerradas. Choro pelo número incalculável de animais mortos à beira da estrada. Mortos pela seca, pelos carros, pelas doenças, por maus tratos e abandono. Choro porque em pleno século XXI ainda posso contemplar o que os poetas da terra contavam em versos as mazelas dos retirantes.
09/03/2013