Pai na janela
Chegava em minha casa tarde ...Cansada, um dia de trabalho.
Noite de estudos... Ainda tão jovem e cheia de preocupações.
Descia de um ônibus, que vinha de longe.
Atravessava uma rua que durante o dia era tão difícil, às vezes quase impossível de atravessar.
Agora tão deserta, quase sem faróis...
Andava rápido para chegar logo na minha rua.
Tinha uma curva... Bastava aquela curva,
E eu conseguia ver meu pai, sentado na janela, no alto de um prédio.
Esperando-me... Cansado também,
Mas me esperando acordado.
Agora sim, continuava a minha caminhada.
Com mais tranquilidade, sentia que nada de mal podia me acontecer...
Ele estava lá, olhando pra mim.
Quando entrava em casa, era aquele silêncio.
Acho que ele dormia no mesmo tempo em que eu subia as escadas, cinco andares...
Só esperava eu chegar aos seus olhos cansados, e preocupados...
Às vezes não entendia, porque ele dormia depois tão rápido.
Só agora posso entender, tenho filhas e só consigo dormir quando sei que elas estão seguras em casa.
Mesmo não sendo a mesma casa que estou... Assim é até pior.
Porque só entendemos as coisas mais tarde. Isso é tão injusto... Só depois de mais de 30 anos fui agradecer ao meu pai por ficar na janela me esperando e dizer pra ele como era importante vê-lo sentado lá.
Como ficava feliz em saber que ele se importava e se preocupava.
Será que consegui passar essa segurança para minhas filhas?
Será que elas sabem a verdadeira dimensão do meu amor?
Gostaria de ser pra elas o que meu pai foi pra mim.
Meu pai na janela...
Rose Benicio