CHÁVEZ CHORÃO KATE

Sabe, Kate? Estes tem sido dias muito loucos. Duas pessoas famosas retornaram ao pó das estrelas. A primeira era uma simpática caricatura de um velho e lindo sonho. Eu podia compreender e respeitar a presença dele, Kate. Como num desfile de moda de alta costura em que são exibidas aquelas roupas que ninguém vai usar nas ruas, porque elas não são para serem usadas. Elas simplesmente apontam tendências. Assim eu via o Hugo e seus vermelhos de saudoso verniz. Não que ele, Hugo, fosse a personificação de um sonho. Ele era uma agradável caricatura de um sonho. Era o desfile de moda da utopia, apontando para um fato: a utopia existe, e o Capital não reina tão soberano assim. E boa parte das pessoas sofredoras deste mundo andam esfarrapadas, apesar dos crediários a perder de vista. E estar esfarrapado não é mais questão de roupa. Uma utopia, Kate, é como uma linda ilha distante, cheia de sombra, água potável, pequenos e lindos roedores, frutinhas, camaradagem... Estamos num barquinho famintos, sedentos, e navegamos em direção a ela. Mesmo que não cheguemos lá, a simples visão da ilha nos faz navegar, em vez de ficarmos com nosso barquinho à deriva no oceano esperando o suprimento acabar. É pra isso que servem os sonhos.

A segunda perda nesta semana, gatinha, foi o cantor de rock. Mais um. Mais um a retornar à condição de poeira estelar. Um romântico apaixonado com um coração quebrando tudo. Kate, o século XIX não terminou.

Você não sabe dessas coisas. Vem pra cama pra eu te fazer um carinho... E você fechar os olhos grandes. Balançar levemente o rabinho peludo. Depois eu retiro o cocô da sua caixinha de areia. Bom pra você não saber de nada disso.