Frangalhos de carne.
Estou escrevendo um livro retratando a história de um homem que perdeu sua família num acidente.
O objetivo é mostrar que, mesmo passando por situação que traz uma dor sem par, é possível reconstruir a vida e ainda ser feliz.
Ser feliz apesar da imensa saudade que nunca deixará de fazer sombra a cada segundo, a cada respirada, a cada batida do coração.
Fico imaginando quantas coisas que nos acontecem e que nos fazem pensar que toda nossa vida foi pro ralo.
Quantas coisas que nos impulsionam a jogar a toalha e pensar que é o fim.
Quantas dificuldades que surgem à nossa frente e que arrancam a nossa força, ânimo e até a capacidade de reagir.
Esse homem teve a pior experiência que alguém pode ter, suponho que não há nada que faça sangrar com maior abundância.
Suponho que não exista motivo de tristeza que se aproxime a 1.000 quilômetros do que ele passou.
No entanto, a sua opção, logo depois do acidente, foi não deixar se abater.
A opção foi pela vida.
Ele teve que buscar força na religião, nos amigos e no trabalho, tripé sem o qual estaria literalmente perdido.
Escrever esse livro está trazendo uma lição inusitada pra mim, nestes 32 anos atuando como biógrafo.
É que sempre será possível encontrar uma saída.
E que Deus, mesmo nos fazendo vivenciar um cenário horrendo em todos os sentidos, ainda será capaz de estender a mão para compartilhar sua alma conosco.
Como um acalanto para nos ajudar a superar todas as farpas desta dor que gritará até ensurdecer o universo inteiro.
Deus tem suas leis, certamente nunca seremos capazes de entendê-las com todos seus acordes.
Mas, por certo, no seu bojo existem nuances que nos trarão ganhos e que nos farão pessoas melhores em todos os sentidos.
Mesmo que, para isso, tenhamos que pisar descalços num chão atolado de brasas, lanças pontiagudas enferrujadas e cacos de vidro prontos para rasgar cada teco da nossa pele até virarem meros frangalhos de carne.
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