O JEEP

Em Mendes Pimentel só os mais abastados podiam comprar um Jeep, naquele tempo ninguém tinha um automóvel tinha um Jeep. Depois do burro e do cavalo o Jeep era o melhor animal que alguém podia ter, ele só faltava subir em árvore, quando a estrada ficava intransitável quem levava o povo para fora de Mendes Pimentel era o Jeep .

Nos tempos das águas a única manerira , além do lombo de burro,de ir para São Félix ou para Governador Valadares era a carona em algum Jeep . Era só ficar de tocaia que volta e meia aparecia um , quase sempre ele já vinha lotado , porque ninguém tinha coragem de negar a carona quando tinha vaga.O Bixo era danado, não tinha barro que o segurasse, ele subia aquelas serras esburacadas e escorregadias engrenado com tração nas 4 rodas, pulava mais do que macaco mas chegava no seu destino, mas de vez em quando algum caia ribanceira abaixo.

Quando alguém tinha alguma pretensão política a primeira coisa que tinha que fazer era comprar um Jeep. Pronto , agora era só ficar prá baixo e prá cima carregando o povo, o problema é que o infeliz não parava mais, o pessoal se achava dono do Jeep e ai dele se negasse um pedido de levar alguém para um hospital em Governador Valadares ou mesmo negar uma carona para um encrenqueiro qualquer , tava fudido , não tinha perdão sua carreira política acabava alí . O meu tio Celso sempre teve Jeep, mas como ele nunca teve pretensão política...

Além do Jeep sempre a disposição o candidato a prefeito tinha que arreganhar as portas da sua casa para o povo, o cara vinha da roça com a patroa e uma cambada de filhos e adivinha onde o miserável ia tomar o café e almoçar. O pobre não trinha mais privacidade, não tinha final de semana e nem a noite prá dormir direito. E o pior é que o suposto eleitor corria mais de um candidato , o voto nunca tava garantido , bastava pisar na bola uma vez que o mineirinho malandro mudava de lado. Sempre tinha candidato que depois de derrotado nas eleiçoes ficava de chapéu na mão e cheio de dívidas.