Óculos de tartaruga
Quando ele, com pressa, tropeçou em uma tartaruga quis pisoteá-la, lembrou-se que ela tinha 100 anos de vida para viver, até para ele era muito tempo para se pisar.
Acondicionada ela foi levada, talvez enriquecesse uma sopa, ou de pernas para cima serviria de peso para papel. Nunca olhe para uma tartaruga nos olhos se pretende fazer dela uma sopa, ela vive cem anos para não emitir nenhum som, para não implorar, mesmo estando em um matadouro.
Poderia se transformar em um animal de estimação, mas como seria estimada se passava dias sob alguma coisa, sem ser vista, sem ser lembrada; tartaruga come moscas ou come banana? A banana poderia ser deixada em algum canto, quanto às moscas foi dado à nova “inquilina” alvará para caçar à vontade, era temporada.
Algumas vezes ela aparecia, podia tanto ser para um diálogo, mas nada, nem um som, algum velho chinês já deve ter dito que, em se nada dizendo a compreensão chega mais rápido, ou era a tartaruga quem informava? Todos os acordos, todas as conclusões, armistícios e pequenas rusgas passaram a ser tácitos, nada expresso, tudo telepático e implícito em um novo relacionamento.
À ordem dos quelônios ele sentiu-se próximo: calou-se, carregava suas verdades dentro de sua carapaça que dela copiara e só olhava nos olhos, passou a entender afinidades para 100 anos e aprendeu a esperar os horários de encontros; deixou de correr e passou a procurar com critério permitido apenas a quem não apressa.
Sabia-se passível de agressões, mas desde então entendeu que fixar-se à frente de, pode evidenciar o que não consegue aquele que se esquiva.
Entenderam-se, e um silêncio didático...fez um Novo homem