BEXIGUENTO
BEXIGUENTO
A palavra já não é das mais simpáticas. Segundo os dicionários, trata-se da denominação dada àqueles que contraíram a varíola, doença que foi causadora de uma epidemia famosa, no Brasil, na transição dos séculos XIX e XX.
Jorge Amado, em Tereza Batista Cansada de Guerra, escreveu:
“Para o povo, porém, a bexiga de canudo
era uma espécie mais virulenta ainda de
varíola, a mais terrível, dita a mãe da
bexiga, de todas as outras, da negra,
da branca, do alastrim, da varicela.”
Por não ser conhecida sua origem, e a possibilidade de sua transmissão, as pessoas que dela faleciam eram enterradas em cemitérios diferentes dos tradicionais existentes.
Desse modo, em todas as cidades, vilas, lugarejos da época, raros os locais onde não havia um “cemitério de bexiguento”.
Não fugindo à regra, Santo André possuiu o seu. Perfeitamente localizável. Ficava onde, hoje, está a primeira unidade da Casa da Esperança, estabelecimento de saúde administrado pelo Rotary Clube de Santo André. Rua Alberto Benedetti, bem em frente ao Hospital Cristóvão da Gama. Lembro-me, inclusive, que nesse local existiu até os anos 50/60 do século passado, uma capela, em homenagem a certa Nossa Senhora que não me recordo qual.
Volta e meia sou questionado sobre a existência dessa necrópole. Dias atrás, necessitando fazer umas compras, fui em um comércio situado na esquina da Avenida João Ramalho, com Guilherme Marconi, na Vila Assunção. Conversando com uma velha amiga do bairro, sabedora de minha atividade como escritor, especializado em coisas antigas da cidade, fui interpelado pela moça do caixa do estabelecimento, que ouvindo o diálogo, perguntou :
- É verdade que existiu em Santo André o cemitério dos bexiguentos?
Onde ficava?
Prontamente, respondi localizando a antiga necrópole, deixando-a espantada pela proximidade do mesmo de onde estávamos, a duas quadras dali.
Que a localização causa determinado incômodo ao ser indicada, isso não resta dúvida.
Todavia, não podemos fugir da verdade.