Vem comigo?
Eu sou fã do que não é previsível. Estar sol e nuvens surgirem abruptamente.
Banana com feijão. Blusa verde e saia roxa. O telefone tocar às três e trinta e dois de uma terça-feira.
O adivinhável é chato. Levanta-senta-deita. Começo-meio-fim. Sujeito-verbo-predicado. Um saco.
Também me agradam outras coisas inusitadas. Carinhos subliminares, desejos inconscientes, desafios salivantes, que nos fazem pagar para ver: Nada do que você não quiser vai acontecer, não confia? Gosto disso.
Existe também um tipo específico de vontade que eu aprecio. Não me venha com vontades que morrerão vontade. Essas são como comida sem sal. Como coca-cola sem gás. Como biscoito Passatempo mole. As vontades boas são aquelas que nascem vontade e morrem verdade. São as que no caminho se transformam em realidade. Ou em sonho. Mas não permanecem vontade.
É difícil conseguir situações perfeitas assim. E confiar. Como saber? Não há.
Um caminho a se seguir é aguardar sessenta e oito dias. Sessenta e oito dias são sempre o tempo suficiente para perceber qual é o grau da previsibilidade. Qual é o teor do inusitado. Qual é o sabor das vontades. Sessenta e oito dias podem ser um corrimão nesse longo corredor que é a vida e nos dar segurança. Mas podem também ser tempo demais.
Então, outro caminho é se jogar. Mandar tudo para o diabo que carregue; as regras, os medos, as manias, o corrimão, os sessenta e oito dias. É acreditar no coração, não buscar entender, não apelar à lógica, é sentir e pensar sem pensar. É confiar no imprevisível, apostar nessas vontades, é fechar os olhos com força. Dane-se.
Mais ou menos assim: “Ai, será que eu entro no carro? Seja o que Deus quiser agora, vou entrar...”