Era uma vez
Sabe pai, a minha infância está a cada dia mais distante. Sempre que posso, procuro relembrar fatos, que mesmo simples, me fazem ficar mais próximo dela.
Hoje os filhos já não se deitam com os pais para ouvirem aquelas incríveis histórias de “Pedro Malazartes”, “Compadre Pobre e Compadre Rico”.
Hoje alugam fitas de vídeo e vai cada um pro seu canto. E aqueles vestidinhos de retalhos, que mamãe fazia com as sobras de suas freguesas? Hoje ficam expostos em vitrines e cobram o olho da cara, só por que não foram costurados na velha máquina da minha mãe!
Não éramos acostumados com beijos e abraços, mas havia carinho entre nós. Sempre que você chegava do trabalho, com os pés em brasa, devido aos cravos, gostava de massageá-los para aliviar sua dor. Hoje, se beijam e se abraçam, mas ao mesmo tempo se agridem, se revoltam e se afastam cada vez mais.
E a minha primeira sala de aula? Ficava na União Operária, conserva esse nome até hoje. Eu com minha maletinha de compensado feita por você, um caderninho de folhas encardidas, um lápis e uma borracha. Hoje têm mochilas caras, estojo de lápis variados, cadernos brochurões, mas não gostam de ir à aula e quase já não há mais reprovação.
E o nosso primeiro sapato colegial? Minha irmã usava de manhã, e eu usava de tarde. Hoje só querem saber de tênis importados, e correm o risco de serem assaltados.
É pai deve ter por aí, um Sr. Epaminondas vendendo quitandas, uma Dona Rita vendendo bananas. Era uma farra quando chegavam. De ter por aí, uma menina magricela, de rosto sardento, com o mesmo apelido “Ximbica”, entregando costuras, jogando birosca, matando borboletas e que ainda sonha ganhar uma boneca de papelão.
Mas tenho certeza pai, que bem próximo de mim, tem um senhor completando oitenta e sete anos, Chamado José Domingues de Moura, vulgo Zé da Hilda, Zé Marceneiro, que ainda conta histórias para os netos e bisnetos. Toca sua sanfona “oito baixos”, conserva sua mala de ferramenta e ainda vive ao lado da mesma mulher(in memoriun minha mãe faleceu em outubro 2010).