A morte do ser-pensante
A morte do ser-pensante
Aquele que pensa está abrindo as algemas, talvez, esteja criando uma nova prisão. A liberdade não é imposta, a servidão, sim. A resposta não deve ser, sempre, a esperada, o sentido jamais será único e a estrada não tem apenas um caminho.
Propaga-se apenas a própria “verdade”. Que verdade é essa? Kierkegaard falou que “verdade é subjetividade”, portanto, o emissor não pode impor e cristalizar a sua ideologia; assassinando o ser para vir a nascer. A zona de conforto é ditatorial, impositora e ignora o histórico do outrem, apagando as refutações e impondo a sua ideologia. A identidade individual é maculada, por conseguinte, um “eu” pensador e livre que deveria nascer, fracassa.
O sujeito-imediatista é condicionado, manipulável e responde sempre segundo a segundo alguém; é o eco fragmentado de quem deveria libertá-lo. Absorve-se o discurso único com seus dogmas nas entrelinhas e, desse jeito, esse ser-pensante que deveria nascer passa a ser um ser viciado, intelectualmente. A liberdade, então, passa a ser uma utopia, uma falácia reproduzida em ecos respondendo a contento o que é proposto.
Condena-se a opressão, todavia, impõe-se a vontade única. Percebe-se que o “libertador” não foge de sua zona de conforto, ou seja, da “verdade” em que ele acredita. Pensar, então, passa a ser uma repetição e, assim, a sociedade espera ansiosa esses futuros cidadãos indolentes e fabricados por algozes que deveriam ser libertadores. O ser - pensante passa a ser uma tabula rasa; o “libertador”, então, começa transformar esse ser no garçom de Sartre – no qual, ele não está sendo ele mesmo. Ele é o que não é -, dessa maneira a identidade individual é alienada, o ser deixa de ser autêntico; o algoz-libertário usa de má-fé.
Não se deve perceber o educador no discurso. Ele deve expor, mostrar, apontar, mas não ser achado dentro de uma única ideologia.
Kant falou do respeito ao próximo, dessa maneira, todos têm algo a acrescentar, a produzir “verdades”, sentidos; o engano é pensar que a exegese é oferecida apenas por quem tem a voz, o espaço e um discurso.
É perceptível uma estrutura corroída e desgastada através de ideias/ ideologias, apenas, substituídas, mas que resultam e respondem a mesma opressão; condiciona-se o ser, hoje, para que no porvir, esse mesmo ser, condicione outros seres. A roda-viva do discurso imposto é perenizada. Exige-se, avalia-se, mas, a prova de tudo isso é uma fragmentação explícita, no qual, jamais se chegará a um todo.
Opressor e oprimido convivem passivamente, cada qual desempenhando o seu papel, perpetuando a passividade, mas, dessa vez, com o discurso unilateral, todavia, repetindo o mesmo resultado de outrora.
A resposta, em tempos idiossincráticos, para o “libertador” deve ser a esperada, a decodificada e interpretada, assim, morre o ser-pensante e nasce o receptador-omisso; o sujeito-imediatista que jamais chegará a compreensão. O conhecimento que deveria ser libertador aprisiona com as amarras de quem fecha um livro e propaga, apenas, o “sentido” que lhe interessa; o sujeito-imediatista jamais conseguirá ler a página seguinte e, apenas, ficará em preâmbulos ecoados.
Mário Paternostro